Medir bem para decidir melhor

FOTO RICHARD BURLTON/ UNSPLASH
A Metrologia, ciência da medição, desempenha um papel fundamental na preservação e na melhoria da qualidade do ambiente. Desde a avaliação dos parâmetros que caracterizam a poluição atmosférica, o ambiente sonoro e a qualidade da água, até à utilização eficiente dos recursos naturais e à gestão dos resíduos, o rigor e a fiabilidade das medições são essenciais para fundamentar as decisões que têm impacto direto na nossa qualidade de vida e na sustentabilidade do planeta.
A Revista Indústria e Ambiente, de forma muito oportuna, dedica a presente edição à relação entre Metrologia e Ambiente, tomando como ponto de partida a necessidade de medir bem para decidir melhor.
Para este número foram pedidos contributos a diversas personalidades nacionais de relevo ligadas à Metrologia e cuja extensa experiência profissional inclui a utilização da ciência da medição em domínios com impacto na qualidade do ambiente.
A revista que o leitor tem nas mãos aborda, de forma necessariamente sintética, mas nem por isso menos rigorosa, a relevância que a Metrologia assume no domínio da acústica ambiental, focando-se na avaliação e na gestão do ruído ambiente. É sumariada a normalização e a legislação mais relevantes neste âmbito, complementadas com o panorama atual da Metrologia Acústica no nosso país, sendo ainda traçadas as perspetivas do seu desenvolvimento futuro.
No que se refere à monitorização da qualidade do ar, são publicados dois artigos. Um deles aborda a questão da amostragem no âmbito das avaliações de impacto ambiental, referindo de forma objetiva quais as implicações que diferentes interpretações dos critérios de amostragem poderão ter na representatividade dos resultados. O outro artigo relacionado com a avaliação da qualidade do ar foca-se na utilização da incerteza da medição, com vista a que a análise dos resultados possa ser feita de forma fundamentada e homogénea, permitindo uma correta comparação entre medições efetuadas por diferentes entidades.
A medição dos parâmetros que caracterizam a qualidade da água são igualmente da maior importância, tanto por considerações ambientais como pelas suas implicações na saúde. Sobre este assunto temos a oportunidade de ler a entrevista que o Presidente da EPAL concedeu à Revista Indústria e Ambiente e na qual são abordados alguns dos objetivos já alcançados, a par dos desafios que se apresentam para o futuro.
Por fim, mas não menos importante, o artigo da Diretora do Departamento de Metrologia do IPQ faz um ponto de situação detalhado e abrangente no que se refere aos vários domínios da Metrologia com repercussões diretas sobre a qualidade do Ambiente. Nesse texto, para além de uma abordagem aos âmbitos atrás mencionados, encontramos informações de grande relevância sobre a utilização da Metrologia noutros domínios, como as Radiações Ionizantes, a Energia ou as Matérias-Primas Críticas.
Não existem hoje dúvidas de que a Metrologia é essencial para garantir a qualidade do ambiente e para permitir que as políticas ambientais sejam baseadas em informação fiável e rigorosa. Sem uma tal informação, não é possível aos técnicos monitorizar corretamente os parâmetros ambientais e avaliar os seus impactos, nem aos decisores públicos elaborar legislação que promova de forma equilibrada um desenvolvimento sustentável.
Assim, podemos afirmar que o investimento em atividades de investigação, desenvolvimento e inovação que permitam conduzir a medições com incertezas mais reduzidas e com rastreabilidade assegurada a padrões nacionais ou internacionais, é crucial para se alcançarem os objetivos ambientais com que estamos coletivamente comprometidos.
Por Paulo Cabral
Engenheiro Electrotécnico Sénior, IEP
Presidente da Sociedade Portuguesa de Metrologia
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