“Na Natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, Antoine-Laurent de Lavoisier

“Somos os prisioneiros de uma sociedade "descartável". A única maneira de escapar é criar um design sustentável”.

Philippe Starck

Em Dezembro, a revista Time anunciou ter escolhido Greta Thunberg, que só em 2020 completa 17 anos, como Personalidade do Ano. É uma adolescente admirada (também odiada) a quem é unanimemente reconhecido ter trazido a emergência climática para o centro das preocupações de Governos e cidadãos. Os anos 20 deste século serão anos em que o apelo à contenção e à utilização sustentável dos recursos será uma preocupação inexorável e premente para decisores políticos, responsáveis pelas políticas públicas no domínio do ambiente, e populações, em geral.

É preciso apelar às consciências individuais e colectivas; é premente acreditar na ciência; aplicar no quotidiano os seus ensinamentos, e contar com participação e envolvimento de todos na luta pela preservação do ambiente. Há desafios, como as alterações climáticas, que impõem a adopção de medidas urgentes de mitigação, bem como mudanças profundas de comportamento.

Em todo o empenho militante de contenção, há curiosamente um aumento que, por bem, se tem registado, e que tem a ver com a letra “R”. Começámos com a política dos 3 R(s) - Reduzir, Reutilizar e Reciclar; passámos para política dos 4 R (s) e acrescentou-se Recuperar, evoluiu-se para 5 R(s) e adicionou-se Renovar. Hoje, impõe-se a política dos 7 R(s) Reduzir, Reutilizar, Reciclar, Recuperar e Renovar, Repensar e Recusar. Estes são os aspectos que se têm vindo a assumir para a gestão de resíduos, que devem ser entendidos não apenas como matérias resultantes da utilização de produtos, nomeadamente sólidos, mas resíduos com um sentido mais lato, considerando as águas residuais ou, até, os efluentes gasosos.

Os modelos económicos associados à geração de produtos e valor têm evoluído no sentido de incorporar os objectivos da sustentabilidade, levando a uma concepção circular da economia, em alternativa à tradicional economia linear.

A sociedade evoluiu necessária e felizmente, criando com o conhecimento e a capacidade inovadora e criativa produtos que transformam os recursos naturais em produtos que contribuem para a melhoria da qualidade de vida das populações.

Quando frequentei o curso de engenharia do ambiente (um curso inovador, disruptivo, no quadro da formação superior da época) não aprendi nada sobre ecodesign. Ainda que isso me ponha numa certa Antiguidade Clássica, creio, esta palavra ainda não teria sido composta. Lamento? Neste aspecto, nada porque o facto de hoje se falar e integrar o ecodesign na economia, nas cadeias de produção, e enquanto objecto de estudo, é um motivo de enorme satisfação, por evidenciar a infindável capacidade de adaptação evolutiva da humanidade.

Para Ezio Manzini, o designer e académico italiano criador de DESIS, uma rede internacional de designers que apostas na inovação social e a sustentabilidade, ecodesign é a "atividade que, ligando o que é tecnicamente possível com o que é ecologicamente necessário, faz nascer novas propostas que sejam social e culturalmente aceitáveis." Para Tapani Jokinen, designer, consultor estratégico de ecodesign, todo o bom design começa com uma história e, na natureza, não há resíduos, nada é desperdiçado, tudo é reciclado. O ecodesign oferece soluções inovadoras e atraentes, vistas de uma perspectiva que abrange estética, funcionalidade, facilidade de uso e, claro, sustentabilidade e compatibilidade ambientais.  O químico Antoine-Laurent de Lavoisier, a quem é atribuído o nascimento da “química moderna” e que, curiosamente, foi guilhotinado na sequência da Revolução Francesa, por vender tabaco adulterado, não poderia adivinhar que, quase três séculos depois, as suas descobertas manteriam tamanha actualidade: “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. As experiências quotidianas agora são objectivamente diferentes das que conduziu com a mulher, Anne Marie, mas a verificação de que, por exemplo, um objecto ferrugento não perde, antes ganha peso, mantém-se no topo da nossa atenção por provar, de forma inequívoca, que a matéria não se perde, mas sempre se transforma.

Agradeço a preciosa colaboração ao Engº Miguel Aranda da Silva, co-editor desta edição sobre Resíduos e Ecodesign, bem como aos outros convidados, especialistas e “actores” que, nas empresas e nas organizações onde desenvolvem as suas actividades, põem em prática as políticas, as estratégias, o ecodesign e os princípios da sustentabilidade.

Editorial do nº 119

Leonor Amaral

Diretora da Indústria e Ambiente / Professora na FCT-UNL

Se quiser colocar alguma questão, envie-me um email para info@industriaeambiente.pt

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