Metrologia

Foto: Suwin66 / Shutterstock

“(…) A sua bela cabeça enérgica e irónica, à semelhança da de Lutero ou de Rabelais, era grande de mais para que se lhe pudesse ajustar com uma precisão completamente ortodoxa uma dessas mitras talhadas pela medida comum dos microcéfalos do servilismo. (…)”

Ramalho Ortigão, As Farpas, vol IV, (1882),
sobre D. António Alves Martins, bispo de Viseu.

Ao sair de casa lemos os valores correspondentes aos gastos da água, do gás e da eletricidade. Deixamos indicação na porta, alguém vai passar a informar-se. Já no carro, verificamos a temperatura no seu interior e no exterior. E, com o interior ainda gelado, programamos o ar condicionado para uns graus acima. Entretanto, já em movimento, olhamos para o medidor de velocidade: ui… exagerámos e “rezamos” para que o radar ali useiro não esteja a funcionar, já não seria a primeira multa.

Este poderia ser o relato de um qualquer cidadão numa vulgar manhã de trabalho. E essa vulgaridade mostra como estamos rodeados de sensores capazes de medir directamente um determinado fenómeno que nos afecta: estamos “dependentes” da medida de múltiplas grandezas que nos rodeiam no dia a dia.

No site da Sociedade Portuguesa de Metrologia, integrado no Instituto Português da Qualidade, verificaremos uma enorme diversidade de sensores: a bobina de um termómetro de resistência de platina; o rotor de um caudalímetro de turbina; a bóia de um instrumento medidor de nível; a fotocélula de um espectrómetro; o cristal líquido termo-sensível... E uma tão grande diversidade revela as múltiplas necessidades de medição no mundo contemporâneo.

A globalização trouxe ainda consigo a necessidade de equidade das trocas e de confiança múltipla, exigindo a presença, em toda a parte, de medidas equivalentes e com exactidão reconhecida por todos.

Estamos longe das palavras do Capitão, na famosas caçada de Lewis Carroll, (A Caça ao Snark): “(…) Abaixo Mercator, Polo Norte e Equador, Eixos Meridianos, Linhas Tropicais (…)”, a que a tripulação ripostou,“(…) Simples símbolos são convencionais. (…)”. Efectivamente, Carroll, em modo criativo e non-sense, evidencia que, mesmo para navegar, são precisos sinais, nem que sejam os do imprescindível e adorado Sineiro.

Sabemos que a superação está quase inevitavelmente associada a uma medida: menos um segundo, menos um centésimo de segundo, mais uma medalha, mais uma taça, menos um kilo, mais uns metros, uns centímetros… Sem medida, não poderia haver essa quantificação e, assim se vê que a Metrologia está presente na nossa realidade física, social e emocional.

A existência da “denominada” mundialização das normas de medida é hoje imprescindível para o futuro da Metrologia, com implicações em áreas tão diversas como a saúde, o comércio ou a análise do Ambiente, como torna claro o co-editor deste número, engenheiro Paulo Cabral, a quem muito agradeço o seu testemunho, estendendo o agradecimento às valiosas (estão medidas) contribuições dos outros autores, que também sugeriu. Nesta edição são apresentadas múltiplas relações entre as necessidades do Ambiente, do seu estudo e medida, com os imprescindíveis instrumentos da Metrologia… Contando caracteres e espaços, despeço-me feliz por levar até aos seus leitores mais um número desta (vossa) revista.

Editorial da Indústria e Ambiente nº 152, maio/junho 2025, dedicada ao tema "Metrologia"
Leonor Amaral

Diretora da Indústria e Ambiente / Professora na FCT-UNL

Se quiser colocar alguma questão, envie-me um email para info@industriaeambiente.pt

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