“Antes de morder, vê com atenção se é pedra se é pão”

Os Sistemas de gestão ambiental, certificação e auditoria são o tema desta edição e quero desde já agradecer a todos os convidados que, de forma conhecedora, especializada e com empenho, contribuíram para este número.

Afinal, de que falamos quando dizemos/escrevemos “certificação”? Na sua forma mais primitiva, referimo-nos ao acto, e à necessidade, de medir (imperativo para gerir trocas comerciais e estabelecer o peso relativo de poderes). Referimo-nos a registos de há perto de quatro mil anos, quando as unidades de medição se relacionavam com partes do corpo humano - era fácil chegar a uma medida verificável por qualquer pessoa.

Foi assim que surgiram medidas padrão como a polegada, o palmo ou o pé, entre outras, só que, sendo medidas baseadas, definidas e alteradas consoante as medidas do corpo de quem governava, mais do que medidas eram demonstração de poder e fonte de conflito. Estabeleceu-se então a prática de criar padrões únicos, aceitáveis de forma generalizada. Do que a História conta, os primeiros foram estabelecidos em pedra.

Fiáveis, portanto, mas difíceis de transportar por causa do peso. Seguiram-se os de madeira. Mais leves mas com problemas de desgaste da matéria e de facilidade de alteração por parte de mercadores ou artífices menos escrupulosos. Havia assim receio de prática fraudulenta nas medições. A solução encontrada para obviar a estes desvios foi a prática adoptada de gravar comprimentos equivalentes a diferentes medidas nas entradas das cidades, ou nas paredes dos templos ou, em alternativa, afixar o comprimento equivalente em barras de ferro, igualmente na porta das cidades.

Ainda hoje se encontram sulcos em paredes exteriores de edifícios, em vários casos igrejas, que tinham como função permitir aferir e certificar a medida padrão, resultando também em confiança quanto às quantidades dos bens comercializados.

Essa marca associada às cidades era, ao mesmo tempo, factor de afirmação de poder, de demonstração da existência de regras e de controlo por parte das autoridades.

Milénios passados, dum modo geral, continuamos a procurar a certificação (confiança) na aquisição de um vinho, de um queijo, de umas cerejas, de peças de vestuário, na compra de equipamentos, na água que bebemos e em tantas outras coisas do nosso dia a dia. Cuidados e atitudes que os adágios e aforismos sempre recomendaram e que se podem resumir neste: “antes de morder, vê com atenção se é pedra se é pão”.

Afirmada a importância da certificação na vida humana, nada mais natural (racional e vital) agora do que a procura também da certificação ambiental.

Felizmente, hoje já contamos com a gestão ambiental, a sua certificação e a auditoria para que, tal como os sulcos gravados junto à porta das urbes, os cidadãos possam acreditar que as empresas e as organizações se encontram efectivamente empenhadas nos desafios da sustentabilidade e no cumprimento dos normativos existentes.

Saudemos a consciência social cada vez mais apurada quanto à importância do ambiente. E saudemos ainda as empresas e as organizações que reconhecem (e valorizam) o prestígio que lhes advém da percepção que o mercado tem dos seus produtos ou serviços também em função do comprometimento que materializem com o desempenho ambiental.

Na essência, voltamos à muralha da cidade, e os instrumentos de gestão, certificação e auditoria ambiental, garantem a ausência de fraude, asseguram uniformização justa e equitativa e, por mecanismos simples de visualização de selos ou de certificados, conferem o conforto e a certeza da confiança e da legitimidade que todos seguramente procuramos. Pelo Ambiente.

Editorial da Indústria e Ambiente nº127 mar/abr 2021, dedicado ao tema 'Sistemas de gestão ambiental, certificação e auditoria'

Leonor Amaral

Diretora da Indústria e Ambiente / Professora na FCT-UNL

Se quiser colocar alguma questão, envie-me um email para info@industriaeambiente.pt

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