Consumimos muito pescado em Portugal, mas também o desperdiçamos. Qual o destino deste desperdício?

FOTO: CHUTTERSNAP / UNSPLASH

O desperdício alimentar no pescado

Os produtos do mar são cruciais na nossa dieta, representando cerca de 20 % da proteína animal consumida per capita a nível global (FAO, 2024). A presença do pescado na gastronomia reflete as tradições culinárias, a sua disponibilidade e acessibilidade.

Existe uma enorme diversidade de espécies e métodos de produção, gerando uma grande variabilidade no valor nutricional do pescado, que é rico em nutrientes essenciais como ácidos gordos ómega 3, vitaminas (A, E), minerais (iodo, cálcio, fósforo) e proteínas (Hallström et al., 2019). Portugal tem uma posição singular, uma vez que possui um dos maiores consumos de pescado per capita do mundo (54 kg/ano em 2022), mais do dobro da média na União Europeia (UE) (23 kg/ano) (EUMOFA, 2024).

O consumo de pescado é altamente diversificado devido a tradições, razões políticas e religiosas (e.g., consumo de bacalhau) e disponibilidade de recursos (existem cerca de 200 espécies comerciais) (Almeida et al., 2015).

Cada Português gasta em média, por ano, 456 euros em pescado, três vezes mais que a media da UE, com 138 euros (EUMOFA, 2024). Estima-se que cerca de 35 % do pescado é desperdiçado ao longo da cadeia de valor (Gustavsson et al., 2011). Mas sabemos pouco sobre o desperdício do pescado (DP) e a sua redução pode aumentar a disponibilidade para o consumo e mitigar as alterações climáticas, prevenindo que uma parte dos recursos utilizados sejam desperdiçados. Embora menor do que a carne, a produção de pescado tem um impacto ambiental significativo, e o seu desperdício representa uma perda de nutrientes com grande valor.

Existem diferenças significativas no DP entre espécies, tipos de produção, origem e fase da cadeia de valor (Love et al., 2023). No entanto, a falta de dados atualizados do DP ao longo da cadeia de valor dificulta a sua quantificação para gerir eficazmente, definir metas, prevenir e aplicar medidas de mitigação adequadas.

Desperdício ao longo da cadeia de valor do pescado

A cadeia de valor do pescado consiste, de uma forma geral, na produção (pesca ou aquacultura), primeira venda na lota, transporte, processamento, armazenamento, distribuição, comercialização e consumo. É ao nível do consumidor que ocorre a maior parte do desperdício. Por exemplo, nos EUA, cerca de um terço de todo o DP ocorre no consumo, dentro (65 %) ou fora de casa (35 %) (e.g., restaurantes) (Love et al., 2023). Em casa, o DP é geralmente maior para produtos frescos (Gustavsson et al., 2011).

Considerando a preferência portuguesa por pescado fresco (Cardoso et al., 2013), espera-se um elevado DP nesta fase em Portugal. O DP começa na pesca, com a captura de espécies indesejadas ou sem interesse comercial, que são rejeitadas no mar (antes do desembarque). Estima-se que as rejeições representem entre 8 % a 20 % das capturas (Zeller et al., 2018). (...)

Por Cheila Almeida, Carla Pires, António Marques
Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA)
Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR)
Leonor Nunes, Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha
Rita Ribeiro, Blue Bioeconomy CoLAB (B2E CoLAB)

Leia o artigo completo na Indústria Ambiente nº 150 jan/fev 2025, dedicada ao tema "Desperdício alimentar". 

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