Acumulação de algas no Algarve pode ser sinal de desequilíbrio no ecossistema

Uma equipa de investigadores identificou três zonas distintas de acumulações de algas na costa do Algarve e alertou que esta observação pode ser um sinal de desequilíbrio nos ecossistemas marinhos, revelou a Universidade do Algarve.

Em nota de imprensa, os investigadores admitem que “sejam necessários mais dados para validar as observações”, mas sublinham que “os resultados até agora obtidos já permitiram perceber melhor estes fenómenos e investigar potenciais utilizações e vias de valorização destas algas”.

O aparecimento de grandes concentrações de algas na costa algarvia é um fenómeno cada vez mais frequente, motivado, na maioria das vezes, por espécies invasoras, introduzidas, nomeadamente, através de navios que as deslocam nos seus cascos, sem afetar a qualidade da água balnear.

Pelo terceiro ano consecutivo, investigadores do Centro de Ciências do Mar (CCMAR) da Universidade do Algarve apelaram à colaboração dos cidadãos na identificação de grandes acumulações de algas no mar ou nas praias da costa portuguesa, incluindo nos arquipélagos dos Açores e Madeira.

As análises dos registos enviados no quadro do programa “Algas na Praia”, feitas pelo biólogo marinho Rui Santos, investigador no CCMAR, permitiram “identificar” três zonas distintas de acumulações de macroalgas na costa do Algarve.

Segundo a nota, nas costas rochosas do barlavento (oeste algarvio), as acumulações foram causadas por uma alga castanha invasora originária dos mares do Japão e Coreia, cujo nome científico é Rugulopteryx okamurae, e “parecem estar a aumentar em extensão”.

Nas praias da zona central do Algarve, entre Albufeira e Faro, a alga vermelha invasora Asparagopsis armata, nativa das águas da Austrália e Nova Zelândia, foi a responsável por acumulações registadas tanto em 2021 como em 2022.

Por último, na costa arenosa do sotavento (leste algarvio), a alga verde Ulva spp., nativa das águas portuguesas, foi a principal responsável pelas grandes acumulações que se observaram em 2021, mas em 2022 houve poucas acumulações desta alga, o que pode ser devido a diferentes condições ambientais.

Segundo os investigadores citados no comunicado, “apesar de os nutrientes serem geralmente a principal causa do crescimento excessivo das algas, os resultados obtidos até agora não mostram uma correlação significativa entre a concentração de nutrientes na água e a ocorrência destas acumulações”.

Por outro lado, “observou-se uma relação significativa com outros parâmetros ambientais, nomeadamente a temperatura e o vento”, lê-se na nota.

De acordo com os técnicos, as acumulações das espécies Asparagopsis armata, nas praias de Quarteira e Faro, e Ulva spp., no sotavento, estão relacionadas com os ventos de norte e noroeste, enquanto as acumulações de Rugulopterix okamurae, no barlavento, estão relacionadas com uma maior temperatura da água.

Os investigadores concluem que os “dados de mais anos serão necessários para validar estas observações”.

Em relação ao impacto na biodiversidade e na estrutura das comunidades, o projeto “Algas na Praia” não avaliou o impacto dos grandes desenvolvimentos de espécies de algas, mas “permitiu identificar que há três espécies que aparecem em grandes quantidades nas praias de todo o Algarve”.

Até agora, explicam os investigadores, “os resultados sugerem que o aumento da temperatura do mar pode favorecer o grande desenvolvimento e acumulação da alga castanha exótica Rugulopterix okamurae, enquanto o vento do quadrante norte pode ser um fator chave para o desenvolvimento de espécies nativas das algas verdes Ulva spp. e da alga vermelha exótica Asparagopsis armata”.

Os cientistas referem que será preciso investigar “com maior detalhe a importância destes e de outros fatores, como as correntes, para o desenvolvimento de um sistema de deteção precoce que possa prever as grandes acumulações de algas nas praias, de modo a poderem implementar-se estratégias de mitigação e adaptação, como a colheita da biomassa e sua valorização económica”.

“A investigação sobre potenciais utilizações e vias de valorização destas algas pode transformar este problema numa oportunidade suscetível de gerar riqueza”, afirmou a professora da Universidade do Algarve e investigadora do CCMAR, Dina Simes.

Os veraneantes interessados em contribuir para o estudo destas algas podem preencher um pequeno inquérito na página da plataforma “Algas na Praia”.

Desde o seu lançamento, no final de julho de 2021, que se tem verificado uma boa adesão por parte dos cidadãos e dos profissionais das praias ao projeto com o envio de 167 registos, em 2021, e de 161, em 2022.

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