Prolongar a vida de óleos alimentares com recurso a algas

Implementar a utilização de extratos de algas em óleos alimentares, com o intuito de prolongar o seu tempo de vida útil, é o grande objetivo do Ocean2Oils, um projeto que está a ser desenvolvido pelo MARE - Centro de Ciências do Mar e do Ambiente do Politécnico de Leiria, e ao qual foi recentemente concedida uma patente nacional. «Os óleos alimentares estão sujeitos a reações de degradação promovidas pelo contacto com o oxigénio (oxidação), por temperaturas elevadas e pela água libertada pelos alimentos, o que resulta na formação de compostos responsáveis pela diminuição das qualidades nutricionais e por defeitos sensoriais, nomeadamente, o ranço.

O uso de antioxidantes sintéticos em óleos, isto é, de compostos capazes de prevenir a oxidação, apresenta efeitos limitados devido à sua volatilidade e instabilidade a altas temperaturas, além da evidência de que o seu uso pode ter efeitos cancerígenos», explica a investigadora Carla Tecelão, citada em comunicado do Politécnico. Foi neste contexto que surgiu o projeto Ocean2Oils, financiado pelo Fundo Azul – Direção-Geral de Política do Mar, que visa explorar as potencialidades que o oceano pode oferecer para ultrapassar alguns constrangimentos no processamento de óleos alimentares, considerando que as algas são uma fonte de compostos de alto valor, em particular, de antioxidantes e pigmentos, que podem ser usados em alimentos e suplementos alimentares. «Verifica-se que os óleos suplementados com extratos de algas possuem maiores teores de pigmentos (clorofilas e carotenoides) e de compostos fenólicos com elevada atividade antioxidante. Salienta-se que o processo de extração não utiliza solventes nefastos para o ambiente, recorrendo-se à extração assistida por ultrassons (uma técnica emergente, identificada como “verde”).

O projeto tem como objetivo implementar um processo sustentável e integrado de exploração de algas comestíveis, algumas invasoras da costa portuguesa, promovendo o conceito de economia circular, em três linhas de investigação: utilizar as algas como fonte de antioxidantes naturais para a suplementação de óleos alimentares, aumentando o seu valor nutricional e a sua estabilidade, com consequente redução do impacto ambiental dos resíduos; aplicar os extratos das algas no desenvolvimento de revestimentos comestíveis para aplicação em alimentos antes da fritura, com o intuito de minimizar a perda de água e a absorção de óleo dos produtos fritos; aproveitar a biomassa residual, que ainda é rica em nutrientes, em rações para aquacultura.

O projeto teve início a 2 de setembro de 2019 e tem a sua conclusão prevista para 28 de fevereiro de 2022. A sua aplicação prática reside na formulação de óleos alimentares com maior estabilidade a reações de degradação e, consequentemente, com maior tempo de vida útil.

Em termos económicos e ambientais os benefícios são notórios, com a diminuição de resíduos a processar. O aumento do valor nutricional do óleo alimentar tem também vantagens para o consumidor, que beneficia de um alimento enriquecido em compostos bioativos, em particular de carotenoides e compostos fenólicos, que têm demonstrado efeitos na prevenção de doenças cardiovasculares, na redução da incidência de alguns tipos de cancro e no controlo do índice glicémico. Os revestimentos comestíveis formulados com compostos extraídos da alga possuem também benefícios para a saúde do consumidor, diminuindo a absorção de gordura pela matriz alimentar (filetes de peixe, por exemplo) em processos de fritura.

O consórcio do projeto Ocean2Oils envolve duas instituições de ensino superior, o Politécnico de Leiria, na qualidade de promotor, e o Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa. Conta ainda com a participação da empresa Sovena Consumers Goods, líder do mercado português de azeite, óleos vegetais e sabões, e da Francisco Baratizo, sediada em Peniche, que se dedica à comercialização de peixe e produtos da pesca (congelação e transformação de produtos da pesca).

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