Regadio usa 75% da água em Portugal e desperdiça mais de 35%

  • 13 julho 2022, quarta-feira
  • Água

O vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), Pimenta Machado, afirmou que o regadio desperdiça, em Portugal, mais de um terço das reservas de água e alertou para a necessidade de tornar os sistemas mais eficientes.

Num ano de seca, Pimenta Machado reiterou que a situação é “dramática” em algumas zonas do país, com as reservas abaixo do normal, mas considerou que a solução não passa apenas por construir mais barragens, mas também por resolver problemas de desperdício, indicando que “os sistemas de regadio desperdiçam mais de 35 por cento da água”.

Segundo explicou, a Agricultura consome 75 por cento da água utilizada no país e mais de um terço continua a ser desperdiçada em perdas no transporte, devido à antiguidade dos sistemas, muitos construídos nos anos de 1950, e considerou que “o caminho é tornar os sistemas mais eficientes”.

“O que é preciso é modernizar os canais. Não faz sentido hoje que se perca água através do transporte, portanto a aposta é na eficiência, mas também em encontrar novas origens de água, por exemplo usar águas das ETAR [Estações de Tratamentos de Águas Residuais] para lavar caixotes do lixo, ruas, regas de jardins”, afirmou.

O vice-presidente da APA falava num fórum sobre a seca e o regadio, em Vila Flor, no distrito de Bragança, e especificou que Portugal consome o equivalente a “dois Alquevas” de água anualmente, destinando-se cerca de 75 por cento desta a rega na Agricultura.

Neste setor destacou duas realidades no país, a sul do Tejo e no Nordeste Transmontano, onde, segundo disse, “a seca é estrutural e não uma questão de escassez de água”.

“O caminho é os setores serem mais eficientes, nós pedimos mais barragens, e claro que é necessário fazer mais barragens, mas este ano nós estamos aflitos não é por não ter barragens, nós temos barragens, elas é que não têm água”, defendeu.

Presente na iniciativa Fórum do Ambiente organizada pelo município de Vila Flor, no âmbito da feira Expovila, a diretora regional de Agricultura e Pescas do Norte, Carla Alves, assegurou que há financiamento para a reabilitação e modernização dos sistemas de regadio já existentes e deu como exemplo a Associação de Regantes do Vale da Vilariça, em Trás-os-Montes, que tem um projeto aprovado de 1,5 milhões de euros para o melhoramento da barragem da Burga e do Salgueiro.

Carla Alves salientou que o próximo aviso para candidaturas ao Plano de Desenvolvimento Rural destina-se precisamente à aquisição “de tudo que são equipamentos necessários para uma rega eficiente, sejam sensores, drones, estações meteorológicas, que permitem hoje fazer uma contabilidade daquilo que é preciso a planta beber”.

A diretora regional defendeu que há também que continuar a apostar em aproveitamentos hidroagrícolas, mas também nas práticas tradicionais como as culturas de sequeiro na região de Trás-os-Montes, mais adaptadas às alterações do clima.

Carla Alves vincou que se esta região continuar a plantar amendoal, olival e vinha de variedades autóctones, “em anos normais são plantas que conseguem funcionar sem regadio e conseguem ser produtivas”.

“É óbvio que nós conseguimos aumentar as quantidades se o olival, a vinha, o amendoal foram regados, mas se não forem, são plantas resilientes e que conseguem adaptar-se a estas alterações climáticas e, por isso, é que essa tem que ser a aposta no futuro”, defendeu.

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