Entrevista a Bárbara Rodrigues

A responsável de Ambiente da Resíduos do Nordeste relata a experiência desta Entidade Gestora na compostagem e o caminho que tem vindo a ser construído para a recolha seletiva de biorresíduos. Bárbara Rodrigues alerta ainda para os desafios associados à gestão num território rural e disperso, sobretudo quando o planeamento é desenhado a partir de uma visão urbana.

Entrevista por Cátia Vilaça

Até este momento, os resíduos que podiam ser colocados no compostor eram provenientes de alimentos crus e folhas de jardim. É expectável que com um processo mais industrializado isto possa ser alargado, e possa seguir para valorização outro tipo de resíduos - putrescíveis, alimentos cozinhados - ou isso não tem interesse do ponto de vista do composto?

No caso da Resíduos do Nordeste, a compostagem será sempre uma ferramenta complementar, nomeadamente nos territórios onde não é elegível a recolha seletiva de biorresíduos. Um processo mais industrializado deixa de ser classificado como reciclagem na origem (ainda que em Portugal não esteja regulado).

Desde 2017 que temos vindo a orientar para o saber-fazer através do projeto “Educar para uma Economia Circular”, porque a gestão dos biorresíduos começa no campo. Os alimentos vêm do campo, e antes de se transformarem em resíduo têm uma função. Isto para dizer que antes da compostagem temos também o combate ao desperdício alimentar, que o RGGR [Regime Geral de Gestão de Resíduos] introduziu, com obrigações ou intenções a vários responsáveis na cadeia de valor.

A partir desse projeto, implementámos ações e criámos um programa descentralizado de compostagem, que assenta atualmente na comunitária e na doméstica, e medimos resultados. A compostagem doméstica e comunitária apresenta limitações, não absorve todo o tipo de biorresíduos, pois não se controlam todos fatores inerentes ao processo. Uma das grandes barreiras num projeto de gestão de biorresíduos, nomeadamente na reciclagem na origem e mesmo na recolha, é o timing que é colocado em sede de candidatura. O tempo necessário para operacionalizar e começar a ter resultados é muito pouco. Em alguns sistemas, ainda estamos a ter projetos-piloto, e não podemos dar esse salto sem avaliar os resultados.

No entanto, na fase pós projeto continuamos a medir. Alocamos recursos, investimos em pessoas e na manutenção dos compostores e chegámos a uma conclusão que, ainda que óbvia, às vezes não se faz clara: o alargamento pressupõe um número enorme de compostores para conseguir que haja uma redução na TGR, ou seja, é uma luta contra o tempo. Eu sou das pessoas que mais defendem a compostagem, e é uma boa solução do ponto de vista social e económico, porque mantém no local o valor daquilo que é desviado, mas ambientalmente as metas que nos estão entregues pecam por não conseguirmos ter impacto na fórmula de cálculo. Temos atualmente 700 compostores domésticos instalados, e monitorizados, e cinco a funcionar muito bem na compostagem comunitária e, no total, não conseguimos tirar mais do que 45 toneladas de composto. Nós não ficamos, como é óbvio, só por este modelo de gestão de biorresíduos. Se queremos extrair valor das recolhas seletivas temos de otimizar o processo desde a produção até às fases seguintes. Temos uma estação de transferência que já está em fase de planeamento para otimização. Para a receção de biorresíduos será segregado um fluxo, de verdes e alimentares, que depois será transportado para a nossa unidade de valorização orgânica, a Unidade Tratamento Mecânico e Biológico de Urjais, em Mirandela. Em 2022 arrancam as obras para otimização da linha separativa para os biorresíduos, e a partir daí toda a fração verde será encaminhada diretamente para compostagem, o que permitirá valorizar mais de 10 mil toneladas/ano. Haverá ainda uma alimentação direta para a digestão anaeróbia. Neste modelo de gestão não podemos olhar só para os produtos de valor acrescentado finais mas também para os intermédios. Temos de começar as olhar para os lados!

Independentemente das barreiras legislativas, também nos biorresíduos temos de ganhar escala. Os estudos pressupõem sempre uma análise aos setores de atividade da região, ou seja, percebemos onde há maior potencial. Entra muita quantidade de biorresíduos que, ao abrigo do RGGR, não são biorresíduos, mas é material biodegradável que poderá enriquecer os nossos investimentos a longo prazo. Há muito calor que se perde num processo, há tambem fósforo que fica perdido. Mas temos agricultura e floresta ao lado, e é aí que precisamos de ter influência. Depois, temos a perspetiva comportamental: também temos de alocar tempo para bater às portas, para ver quem quer e quem não quer participar mediante a área que foi selecionada. (...)

Leia a entrevista completa na Indústria e Ambiente nº131 nov/dez 2021, dedicada ao tema 'Biorresíduos: da recolha selectiva ao destino final'

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