Let's Make It Happen

No final de Setembro, no Fórum político de alto nível para o desenvolvimento sustentável da ONU (SDG Summit), foi apresentado o relatório “The Future is Now: Science for Achieving Sustainable Development” onde Portugal, entre 162 países avaliados quanto ao desempenho no cumprimento dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), adoptados na Agenda 2030, ficou classificado em 26º lugar. Esta boa notícia não veio sem a identificação dos obstáculos sentidos no país no cumprimento dos ODS 3, 8 e 11, respectivamente, saúde de qualidade, trabalho digno e crescimento económico, e cidades e comunidades sustentáveis, para além dos grandes desafios na erradicação da fome e nos ODS 12, 13 e 14: produção e consumo sustentáveis, ação climática e proteção da vida marinha.

A nível global, no mesmo relatório, identifica-se a necessidade de aceleramento com vista à oferta universal de serviços básicos — saúde, educação, habitação, proteção social e infraestrutura de água e saneamento, — como pré-requisito para eliminar a pobreza.

Estima-se que, até 2050, dois terços da população global irá concentrar-se em cidades, lançando assim novos e urgentes desafios de mudança na forma como hoje vivemos as cidades: melhores níveis de eficiência na mobilidade, nas infraestruturas, nos serviços sociais e uma economia que seja sustentável, providencie meios de subsistência e assegure qualidade de vida.

Fundamental para garantir a sustentabilidade dos recursos naturais, e da qualidade de vida, é a mudança obrigatória de paradigma de uma economia linear para uma economia circular, que não se restrinja ao universo dos resíduos. Não existe nada mais circular do que o ciclo da água e, por isso, como forma de “protesto”, este número é dedicado à Água – economia circular.

A complexidade das questões da água, e da sua gestão, abrange, desde a escassez de água doce, ao facto de, no ano em que deverão estar cumpridas as metas dos ODS, a procura de água, provavelmente, exceder, em muito, a oferta (considerando ainda os problemas de qualidade, saúde pública, assimetrias geográficas e sociais com ela relacionados).

Existem já instrumentos, até legais, para consubstanciar a economia circular aplicada à água. A medida mais imediata é a do aumento substantivo da sua reutilização. As águas residuais devem ser encaradas como fonte de nutrientes, de energia, um potencial de reserva de água, e nunca como desperdício. As consequências das alterações climáticas obrigam a que ajamos desta forma, antecipando a deterioração prevista da qualidade e da quantidade das massas de água. A viabilidade técnica da reutilização da água está demonstrada, importa agora que, pela educação e pela infraestruturação dos aglomerados, os técnicos do sector da água intervenham precocemente nas fases de planeamento de urbanização e do ordenamento do território.

A lista das cidades afectadas por sérios problemas de abastecimento de água não pára de aumentar. Cidade do Cabo, São Paulo, Bangalore, Pequim, Cairo, Jacarta, Moscovo, Istambul, Cidade do México, Londres, Tóquio ou Miami são apenas algumas das de maior dimensão e densidade populacional.

Como em tudo na vida, também é preciso olhar para o “copo meio cheio”: o anúncio de que novas construções sociais preverão sistemas de aproveitamento de águas cinzentas, ou até de águas pluviais é uma boa notícia. Na óptica da reutilização e da implementação da economia circular, estamos assim no momento de relançar o debate sobre sistemas centralizados versus sistemas descentralizados. Reutilizar não implica riscos para as populações ou falta de controlo. Temos soluções técnicas. Precisamos de vontade política. Talvez a que existiu quando se impôs a certificação energética.

Kala Vairavamoorthy, director executivo da International Water Association (IWA) entende que, do ponto de vista cultural, devemos respeitar o ambiente e mantermos uma relação espiritual com a água. Na sua recente passagem por Lisboa, contou que o pai costuma dizer que, “tirar água de um rio, é como tirar um livro de uma biblioteca. Alguém vai utilizá-lo a seguir e, por isso, deixamo-lo no mesmo estado em que o encontrámos.”

É sobre Água –Economia Circular que o Engº Arménio Figueiredo, co-editor desta edição, e os outros convidados, escreverão neste número da revista. Agradeço-lhes a colaboração, convicta de que, poderemos “ler muitos livros” e que eles, com os seus textos, nos ajudarão a deixar a “biblioteca” como a encontrámos.

Convoco o prefácio do Secretário Geral das Nações Unidas, António Guterres ao relatório citado:“ Our world as we know it and the future we want are at risk. (…) This Report reminds us that the future is determined by what we do now and the window of opportunity is closing fast. (…)”.

Parece sempre impossível até estar feito.

Com todo o entusiasmo, deixem que vos diga: “Let's Make It Happen”

Leia a Indústria e Ambiente nº 118

Leonor Amaral

Diretora da Indústria e Ambiente / Professora na FCT-UNL

Se quiser colocar alguma questão, envie-me um email para info@industriaeambiente.pt

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