IoT e Ambiente

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“O painel de bordo é essencialmente composto por um SELECTOR TEMPORAL e por DUAS ALAVANCAS, uma VERMELHA para o arranque e uma AMARELA para a paragem. O resto não tem importância. (…) O famigerado Moloch, sábio perverso, dava estas indicações ao Professor Mortimer na obra A Armadilha Diabólica de Edgar J. Jacobs, publicada em 1962. Com uma aparente simplicidade, o Cronóscafo, com o seu regulador temporal, permitia escolher a data pretendida e viajar no tempo.
Na (nossa) “vida moderna” pretendemos rapidez e eficácia face às múltiplas solicitações e tarefas a desempenhar, qualidades que o referido Cronóscafo conseguia cumprir. Este aparelho continua a parecer-nos uma ficção próxima do Coelho apressado, vendo o seu relógio guardado no colete, em Alice no País das Maravilhas (Lewis Carroll, 1865). Mas há animais que saíram do infinito mundo da ficção para a realidade, como o Nabaztag, nome arménio para coelho.
Criado na sua primeira versão em 2005, Nabaztag, objecto comunicante, ou objecto inteligente, tinha a qualidade de se ligar à internet, podendo realizar previsões do tempo, alertas de emails com capacidade, ainda, para emitir mensagens curtas. As suas orelhas e luzes funcionavam como indicadores. A sua funcionalidade integra-se naquilo que é denominado “calm technology”, capaz de fornecer informação simplificando as complexidades; saliente-se o seu carácter não invasivo na vida quotidiana. As qualidades funcionais, aliadas ao depurado design, permitem compreender a sua presença em exposição na sala dedicada ao design do século XX, no Victoria and Albert Museum, em Londres. Este foi igualmente o primeiro objecto inteligente comercializado em larga escala.
A sua presença discreta, mas eficiente, a sua capacidade computacional e de comunicação, conduziu à sua precoce associação ao Ecossistema inteligente da “Internet das Coisas”. Ao contrário dos objectos não inteligentes, destes podemos extrair informação, controlá-los, fazê-los interagir com outros objectos inteligentes e, naturalmente, com as pessoas. Este vasto campo de actuação permite compreender as potencialidades da “Internet das Coisas”, termo criado em 1999 por Kevin Ashton.
A Comissão Europeia já chamou a atenção para o facto da inteligência artificial (IA), os megadados e a “Internet das Coisas” estarem no centro da digitalização da economia mundial. De acordo com a International Data Corporation, “o número de dispositivos ligados à Internet das Coisas instalados em 2023 era de cerca de 40 mil milhões e deverá aumentar para 49 até 2026”.
A “Internet das Coisas” permite realidades novas como a dos identificadores de alta frequência, nomeadamente as etiquetas digitais, capazes de reutilização e de conterem informação complementar, ao contrário do comum código de barras. Por outro lado, a IoT traz consigo, também ameaças de vulnerabilidade da segurança, da privacidade dos dados pessoais, riscos associados aos ciberataques.
A IoT está presente nas nossas vidas em diversos sectores como o comércio, a indústria transformadora, os transportes e logística, os cuidados de saúde, ou a energia. Duma forma mais concreta, conhecemos as aplicações da domótica e todos os potenciais das chamadas casas inteligentes, como conhecemos aplicações dos telemóveis ou dos smart watches, ou os assistentes de voz como a Siri ou a Alexa. Umas vezes adoramo-los, noutras detestamos, conforme nos sentimos bem ou mal servidos.
Esperamos criar ambientes inteligentes melhorando as nossas condições de vida com a Internet das Coisas. Temos esperança de que os objectos inteligentes, ao contrário do Coelho de Carroll, não nos indiquem apenas os buracos, mas nos ajudem a sair das dificuldades em que vivemos.
A Internet das Coisas e o Ambiente é o tema deste número, que tomámos como uma oportunidade para divulgar parte do que possa vir a ser o futuro. Pela disponibilidade e simpatia da partilha, aqui fica o meu profundo agradecimento a todos os que generosamente se acederam em participar neste número, particularizando o nome do meu colega e amigo, pioneiro destas e de tantas outras coisas mais antigas, actuais ou ainda por inventar, António Sousa da Câmara. Para todos o meu bem-haja.
Diretora da Indústria e Ambiente / Professora na FCT-UNL
Se quiser colocar alguma questão, envie-me um email para info@industriaeambiente.pt
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