75% dos equipamentos elétricos usados desviados para mercado paralelo

De acordo com estudo agora divulgado, três em cada quatro equipamentos elétricos usados colocados na via pública para recolha pelos serviços municipalizados são desviados para o mercado paralelo sem chegar às unidades de tratamento para descontaminação e reciclagem.

No estudo Weee-Follow, promovido pela Associação de Gestão de Resíduos Electrão entre 2020 e 2021 para identificar os desvios de equipamentos e possíveis rotas de mercado paralelo, foi monitorizado o rasto das tipologias mais procuradas no mercado paralelo, dado o valor dos seus componentes, como é o caso de frigoríficos, torres de computadores, máquinas de lavar e fogões.

Em comunicado, no dia em que se assinalou o Dia Internacional dos Resíduos Elétricos (13 de outubro), o Electrão adiantou que o “percurso de 73 equipamentos, distribuídos em 12 dos concelhos mais populosos da área de Lisboa e Porto, foi monitorizado em tempo real através de GPS instalados (…) em cada um dos aparelhos”.

Esta monitorização “revelou que a esmagadora maioria dos aparelhos colocados na via pública, para recolha por parte dos serviços municipais, é canalizada para o circuito informal, o que significa que os equipamentos são transformados em muitos casos em sucata metálica sem que seja acautelada a sua descontaminação”, referiu o Electrão.

Segundo o estudo, 75 por cento integrou o mercado paralelo e só 25 por cento destes equipamentos teve como destino final um Operador de Tratamento de Resíduos, licenciado para descontaminar os aparelhos e recuperar os materiais reciclados.

O Electrão destacou também que a monitorização via GPS “permitiu perceber que muitos equipamentos foram encaminhados para operadores que não estão capacitados para o tratamento de equipamentos elétricos e para portos marítimos, o que significa que alguns aparelhos acabam por ser exportados”.

“Mesmo quando são entregues pelos cidadãos em ecocentros e em outros locais fixos das câmaras municipais, de acesso público, uma parte significativa (37 por cento) destes equipamentos elétricos usados é desviada”, afirmou a associação.

Os dados mostram ainda que os gases de refrigeração associados aos equipamentos desviados nos canais municipais representavam, em 2020, cerca de 36 toneladas.

“Este valor é o equivalente à circulação de 13.500 automóveis durante um ano em Portugal. Em alternativa seriam necessários 550 hectares de pinheiros para absorver o CO2 equivalente destes equipamentos durante um ano”, indicou o Eletrão.

Segundo o estudo, a recolha nos canais municipais representa apenas 0,7 quilos por habitante ano, o que fica muito abaixo dos 4,4 registados em alguns países da União Europeia, como Espanha e França.

“Para que Portugal pudesse cumprir a meta nacional teriam que ser recolhidos nos canais municipais 11,5 quilos por habitante ano”.

O diretor-geral do Electrão, Pedro Nazareth, sublinhou, citado numa nota, que “o resultado deste projeto demonstra que urge privilegiar soluções para a recolha de equipamentos elétricos usados porta-a-porta, como o Electrão já está a fazer, no âmbito do um projeto piloto, em Lisboa, em complemento com a recolha municipal na via pública”.

No entendimento de Pedro Nazareth, o projeto Weee-Follow pode ser uma boa ferramenta para ajudar a pôr fim a más práticas, como a de transformar estes equipamentos em sucata metálica sem acautelar a sua descontaminação.

“Este projeto pode ajudar a aumentar o número e a qualidade dos equipamentos elétricos usados já que permite às autoridades ambientais a possibilidade de realizar ações coordenadas com vista a penalizar as origens e os recetadores”, disse.

Os resultados alcançados no âmbito do projeto Weee-Follow inspiraram um projeto que será dinamizado à escala nacional e alargado às restantes entidades gestoras de equipamentos elétricos.

Segundo a nota, a lógica do Weee-follow vai ser seguida na Campanha Nacional de Fiscalização de Resíduos de Equipamentos de Elétricos e Eletrónicos (REEE), que foi apresentada publicamente a 13 de outubro, e que se enquadra no Plano de Ação dos REEE, que decorrerá em articulação com a Agência Portuguesa do Ambiente, Direção-Geral das Atividades Económicas e entidades públicas competentes em matéria de inspeção e fiscalização no contexto de gestão de REEE.

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