Zero alerta para poluição gerada por fertilizantes agrícolas

A associação ambientalista Zero alertou para os perigos dos fertilizantes agrícolas em Portugal, afirmando que metade deles pode originar poluição do solo e da água, situação agravada com a agricultura intensiva.

Em comunicado, a associação cita o Instituto Nacional de Estatística para afirmar que as quantidades de azoto e fósforo que são colocadas nos solos nacionais “são quase o dobro do que é extraído pelas culturas”, pelo que o excedente que fica no solo “poderá continuar a ser uma fonte de contaminação difusa para o solo e para as massas de água superficiais e subterrâneas”.

Depois, disse também a Zero, a especialização dos sistemas agrícolas através de um modelo do tipo industrial, “tem levado à intensificação pecuária e à dependência de fertilizantes de síntese”, desligando as produções animal e vegetal do ciclo de nutrientes e gerando dependência de matérias-primas não renováveis, como o fósforo mineral.

Citando uma análise do INE, a associação referiu ainda que embora em 2019 Portugal tenha registado o menor consumo de fertilizantes minerais (azoto e fósforo) da União Europeia, terá havido ainda assim um aumento de 2,7 por cento nesse ano.

Valendo-se de estatísticas do Eurostat para o período 2008-2018, a Zero disse haver um consumo relativamente estável para o azoto, mas um padrão crescente de consumo de fósforo.

“No período 1995-2019 (INE 2021), a quantidade de azoto incorporado no solo é quase o dobro do que é removido pelas culturas, com uma tendência de aumento deste excedente desde 2008 (+2,9 por cento por ano). Para o fósforo, durante o mesmo período, a situação é semelhante: 48 por cento do fósforo aplicado é excedente, o equivalente a cerca de seis quilos por hectare”, afirmou a Zero no comunicado.

A associação ambientalista salientou que a elevada mobilidade do azoto no solo leva ao seu fácil arrastamento para a água, superficial ou subterrânea, e assegurou que a aplicação excessiva de fertilizantes azotados está associada a emissões de amoníaco e óxido nitroso, um gás com efeito de estufa 298 vezes superior ao dióxido de carbono.

Em relação ao fósforo mineral, um recurso não renovável que gera poluentes quando é processado e que Portugal tem de importar, a sua perda para as massas de água pode gerar eutrofização.

Essa eutrofização devido ao excesso de nutrientes leva as massas de água a aumentar as emissões de metano, um aumento que pode ser substancial no futuro, alertou a Zero.

Em Portugal, de acordo com dados de 2018 da Agência Portuguesa do Ambiente, “tem-se verificado um agravamento do estado das massas de água, tanto superficiais como subterrâneas, com diminuições de sete por cento e oito por cento das massas de água em bom estado, superficiais e subterrâneas respetivamente”, sendo o fósforo o principal parâmetro responsável pela degradação da qualidade, disse a associação.

Ainda a propósito das massas de água, a Zero referiu que em Portugal, dados de 2019, aplicava-se estrume em apenas 5,1 por cento dos terrenos agrícolas, mas que os efluentes das agropecuárias geram “pressões elevadas” sobre essas massas.

“Enquanto isso, grande parte dos resíduos orgânicos domésticos acabam em aterro. Em 2017, a Zero estimou que seriam desperdiçados cerca de cem milhões de euros por ano em nutrientes que poderiam ser devolvidos aos sistemas agrícolas”, refere ainda o documento.

A associação considera que o país podia fazer uma “modernização sustentável da produção alimentar”, com uma política que procurasse a eliminação progressiva dos riscos de excesso de nutrientes e a dependência de fertilizantes minerais, e eliminasse os apoios para a industrialização da agricultura e do espaço rural.

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