Resistência a antibióticos, sustentabilidade ambiental e saúde

  • 01 março 2021, segunda-feira
  • Água

O uso de antibióticos no combate a infeções causadas por bactérias foi uma das maiores revoluções na medicina humana, intensificada a partir da II Guerra Mundial. Os antibióticos são também testemunho da perfeita aliança entre conhecimento científico e desenvolvimento tecnológico na promoção de saúde e bem-estar. Atos médicos como a simples excisão de um dente, uma intervenção cirúrgica mais complexa ou a terapia oncológica estariam muitas vezes condenados ao fracasso, caso não fosse possível recorrer a antibióticos. Porém, bem antes de atingir um século de uso, os antibióticos veem a sua eficácia seriamente ameaçada devido à assustadora propagação de bactérias resistentes.

Num relatório publicado em 2014, estimativas feitas com base na variação anual da prevalência de resistência em seis bactérias patogénicas alertavam que, em 2050, as infeções causadas por microrganismos resistentes a agentes antimicrobianos poderão vir a matar cerca de 10 milhões de pessoas, aproximadamente a população de Portugal, em apenas um ano. Este alerta não é uma sentença, mas sim um aviso de que é necessário agir desde já. Agir passa por usar melhor e mais racionalmente os antibióticos, por encontrar alternativas terapêuticas, e por evitar que as bactérias resistentes se propaguem. O uso excessivo e desregrado de antibióticos tem sido apontado como a maior causa para a crescente resistência observada. A este nível, sobretudo na medicina humana, têm vindo a ser feitos esforços relevantes. Na produção animal há ainda muito a fazer. Embora na Europa, apenas o uso profilático (e não como promotor de crescimento) seja permitido, dados de 2012 indicavam que, por exemplo, na Holanda e Alemanha a quantidade de antibióticos consumidos por animais de produção era 5-6 vezes maior do que em humanos, e em Portugal de cerca de 1,5. No que se refere às alternativas aos antibióticos, a ciência terá um papel decisivo em identificar novos alvos e princípios ativos. Os antibióticos desenvolvidos com base em produtos químicos, naturais ou (semi)sintéticos têm vindo a perder interesse como produto farmacêutico, resultado da rápida perda de eficácia devido à capacidade de as bactérias adquirirem resistência. Por este motivo, a ciência é chamada a encontrar alternativas. A rapidez e multiplicidade de soluções propostas para o desenvolvimento de vacinas anti-SARS-CoV2 deixa antever um futuro promissor também no combate às infeções bacterianas. A contenção da resistência a antibióticos, evitando que se multiplique e propague, é o tema principal das linhas que se seguem.

A resistência a antibióticos assume a gravidade máxima em pacientes debilitados e, portanto, muito vulneráveis a infeções bacterianas. De acordo com o Centro Europeu para Prevenção e Controlo de Doenças, em 2015 registaram-se na União Europeia mais de 670 mil infeções por bactérias resistentes a antibióticos, mais de 60 por cento das quais associadas a cuidados de saúde, que, além de diminuírem consideravelmente a esperança e qualidade de vida, levaram a mais de 33 mil mortes. O cenário não é homogéneo a nível Europeu. A Itália e a Grécia estão entre os países onde este impacto é mais negativo, seguidos da Roménia e Portugal. No mesmo período reportam-se em Portugal cerca de 24 mil casos com mais de 1100 mortes. Além dos fortes impactos na saúde, a resistência aos antibióticos tem efeitos económicos importantes com a extensão do período de hospitalização, maiores custos médicos e, muitas vezes, insucesso clínico. Porém, a resistência a antibióticos não está apenas em hospitais e unidades de cuidados de saúde. Conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS) faz notar (https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/antibiotic-resistance), a resistência aos antibióticos pode afetar qualquer pessoa, de qualquer idade, em qualquer país.

De ameaças clínicas, as bactérias resistentes a antibióticos tornaram-se também contaminantes ambientais. (..)

Artigo completo na Indústria e Ambiente nº126 jav/fev 2021 

Célia M. Manaia

Vice-Presidente para a Investigação e Internacionalização do Centro Regional do Porto da UCP

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