Produtos feitos a partir de resíduos e a aceitação dos consumidores

Os biorresíduos provenientes de áreas urbanas estão a ser usados para produzir materiais capazes de substituir o plástico, mas aferir a aceitação do público perante estes novos produtos é essencial para determinar a sua viabilidade. É a isso que se propõem os autores do estudo From trash to treasure: The impact of consumer perception of bio-waste products in closed-loop supply chains, publicado no Journal of Cleaner Production.

Os biorresíduos urbanos incluem a parte orgânica dos resíduos sólidos provenientes de habitações e restaurantes, bem como os resíduos de jardins, parques e instalações de processamento de alimentos. Apesar do custo que estes resíduos representam (os autores deste estudo divulgado pela Comissão Europeia estimam-nos em 100 biliões de euros anuais na União Europeia), são também um recurso valioso, já que podem ser usados na compostagem, alimentação de gado, além de poderem ser distribuídos para consumo humano.

Com este estudo, financiado pelo Programa Horizonte 2020, ao abrigo do projeto RES URBIS, pretendeu-se explorar os fatores que contribuem para a aceitação no mercado de produtos feitos a partir de biorresíduos regenerados, com foco na perceção e comportamento do consumidor. Estudos anteriores permitem perceber que os consumidores podem rejeitar este tipo de produtos devido ao facto de os percecionarem como “usados” ou “sujos”. Estes estudos são úteis para perceber a melhor forma de informar os consumidores e ajudá-los a ultrapassar preconceitos.

Neste estudo, os investigadores mostraram aos participantes duas imagens de cadeiras – um modelo de designer de alta qualidade e uma cadeira mais prática, do Ikea. Cada imagem vinha acompanhada de uma descrição com informação acerca de Polihidroxialcanoatos (PHA) e produtos de base biológica. Antes disso, já tinham sido distribuídos 100 questionários para testar a clareza das explicações. Os investigadores mostraram então as cadeiras e respetivas descrições a 230 participantes, tendo obtido resultados úteis de 220. Cada um dos participantes ficou, aleatoriamente, com uma ou outra cadeira e respondeu a uma série de questões formuladas para perceber a sua atitude em relação ao produto, a intenção de compra, a auto-identidade ambiental e a intenção de mudar de produto. Os participantes também foram questionados acerca da sua experiência anterior de compra e vontade de pagar por produtos ecológicos. Para não dar margem a explicações alternativas, foram acrescentadas questões sobre a atratividade do produto, o valor e o risco percebidos. No entanto, nenhum destes fatores mostrou estar na origem da tomada de decisão.

Os investigadores perceberam que o envolvimento do consumidor, ou seja, a sua perceção acerca da importância do produto, não afeta a intenção de compra de produtos de base biológica – e isto deve encorajar o desenvolvimento de uma gama alargada de novos produtos nesta área. A auto-identidade, ou a consciência ambiental, desempenha um papel de mediação entre o envolvimento do consumidor com um produto e a sua intenção de pagar por ele, ou mudar de escolha. Os consumidores mais velhos mostraram-se mais disponíveis para pagar e para passar a consumir produtos de base biológica. Para os investigadores, estes resultados sugerem que o mercado está preparado para fazer esta mudança e que a reconfiguração da cadeia de abastecimento é uma opção viável.

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