Primeira floresta Miyawaki do Algarve pode ajudar a combater a seca
- 23 maio 2023, terça-feira
- Solos
A primeira Floresta Miyawaki do Algarve está a crescer no concelho de Silves com 18 espécies vegetais nativas da região que garantem um equilíbrio da biodiversidade e menor utilização de água, um recurso cada vez mais escasso.
O projeto Floresta Nativa, desenvolvido pela bióloga Sónia Soares num terreno da família em Mesquita, na freguesia de Algoz, concelho de Silves, nasceu em março com a plantação de 260 plantas de 18 espécies nativas do Algarve, que nalguns casos são comuns às de outras partes do país.
“As florestas Miyawaki caracterizam-se por terem um rápido desenvolvimento, serem ricas nas espécies nativas e trazerem bastantes benefícios, quer para o ambiente, quer para o homem, como para a captação e absorção de água”, entre outras vantagens, disse Sónia Soares à agência Lusa.
Segundo a mentora do projeto, este sistema florestal torna-se autossuficiente ao fim de dois ou três anos, tendo como vantagem permitir “uma maior retenção de água no solo e, portanto, a passagem depois para os lençóis subterrâneos”.
Sónia Santos sublinhou que este método vai permitir gastar menos água: “Não é só em termos de dinheiro, mas a importância que a água tem para nós, e principalmente aqui no Algarve, que é uma das regiões do nosso país que está a sofrer mais com a seca e com a desertificação”.
Zambujeiro, aroeira, loendro, alfarrobeira, esteva e murta são algumas das espécies plantadas na pequena floresta de cem metros quadrados que a bióloga gostaria que servisse de exemplo para ser replicada noutras zonas do Algarve e mesmo do país.
“Os pressupostos que nós seguimos nesta metodologia tornam-na mais económica, e estas florestas, em termos de desenvolvimento, são autossuficientes ao fim de dois a três anos”, afirmou, acrescentando que no final desse período, as plantas não precisam de ser regadas.
O método Miyawaki foi criado pelo botânico e ecologista japonês Akira Miyawaki na década de 1970 e tem inspirado a plantação de centenas de pequenas florestas urbanas em todo mundo.
Os estudos de Miyawaki levaram ao desenvolvimento de um método de plantação que combina os conceitos de vegetação natural potencial (a vegetação que deveria existir num local se não houvesse intervenção humana) e a forma como as espécies interagem entre si e crescem para formar um ecossistema florestal dinâmico.
“O principal rendimento [económico] não é um rendimento mensurável ou físico”, defendeu Sónia Soares, que também considerou ser importante o papel que este método tem para “alertar as pessoas para as problemáticas ambientais e a necessidade do desenvolvimento deste tipo de projetos”.
Para a bióloga, é necessário “ajudar a contribuir um bocadinho para o melhoramento do ambiente”, envolvendo “a população local em todas as fases do desenvolvimento de um projeto destes, quer seja a plantação, quer seja a seguir a monitorização e fazer a rega”.
“E isso é uma importante ferramenta, porque em termos económicos, de valor, isto é o melhor que nós podemos dar a estas gerações e gerações futuras”, realçou.
Os princípios do método Miyawaki defendem que se deve identificar a vegetação natural potencial do local e a sua estrutura, ou seja, de que forma as diferentes espécies de herbáceas, arbustos e árvores podem ser combinadas.
A plantação deve ser mantida sem ervas daninhas e regada regularmente nos dois anos iniciais. Este método permite que a vegetação cresça mais rapidamente, o que faz com que tenha vindo a ser aplicado com sucesso em centenas de projetos de pequenas florestas urbanas.
O método tem apresentado bons resultados, com uma taxa de sucesso de 97 por cento a nível mundial, tendo invadido a Europa e surgido em Portugal, pela primeira vez, em 2021.
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