Portugal deve antecipar metas de emissões de gases

Portugal deverá antecipar as metas da redução de emissões de gases com efeito de estufa e da produção de energias renováveis, mas tem na área do ambiente, como negativo, os resíduos e o pouco uso de transportes públicos.

A estimativa foi feita pelo ministro do Ambiente e Ação Climática, João Pedro Fernandes, ao apresentar em conferência de imprensa o mais recente relatório do Estado do Ambiente, referente a 2020.

O documento, cujos indicadores foram em grande parte influenciados pela pandemia de covid-19, mostra melhorias em vários setores, nomeadamente pela paragem da atividade económica, como no ruído, poluição ou consumo de energia.

Na conferência de imprensa o ministro fez essa referência, mas salientou depois o indicador “mais relevante”, o da confirmação da redução de emissões de gases com efeito de estufa desde 2005 em 32,3 por cento, que indica uma tendência continuada e “extraordinariamente positiva”.

Portugal, lembrou João Pedro Fernandes, comprometeu-se em reduzir em 85 por cento as emissões de gases com efeito de estufa até 2050, pelo que, a manter-se a tendência, e com a ajuda das novas tecnologias, tal pode acontecer mais cedo.

Essa redução de emissões tem em parte a ver com o facto, acrescentou, de Portugal ter chegado aos 60 por cento da eletricidade produzida a partir de fontes renováveis.

Neste caso a meta do país é ter 80 por cento da eletricidade a partir de fontes renováveis em 2030. Mas, segundo o ministro, com os projetos que existem no setor, essa data vai ser antecipada e pode haver 80 por cento da eletricidade produzida a partir de fonte renováveis já em 2025 ou 2026.

No balanço do estado do ambiente em 2020, nas palavras do ministro, o pior que fica é a “enorme redução” de passageiros nos transportes coletivos, que foi superior a 40 por cento, de 2019 para 2020.

Hoje a redução não é tão expressiva, “mas ainda não conseguimos ter uma frequência dos transportes coletivos que ultrapasse os 70 por cento de 2019”, disse o ministro, acrescentando que permanece um receio (devido à covid-19) do uso de transportes públicos.

E também negativo no relatório, salientou João Pedro Fernandes, é o setor dos resíduos urbanos. “Se nos transportes estamos num patamar de crescimento, nos resíduos urbanos ainda não tínhamos atingido as nossas metas e 2020 deixa-nos ainda mais longe dessas metas”, disse.

A pandemia de covid-19 influenciou os maus resultados, com o ministro a lembrar que em 2020, especialmente nos primeiros meses, foi o próprio Governo a dar indicações para que as pessoas, na dúvida, “colocassem tudo no lixo indiferenciado”.

O presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, Nuno Lacasta, a quem coube apresentar em pormenor o relatório, também referiu a questão dos resíduos como uma área preocupante, lembrando que no ano passado a produção de resíduos urbanos foi de cinco milhões de toneladas, mais 0,1 por cento do que no ano anterior, o que corresponde a uma média diária por habitante de 1,4 quilos, um valor superior à média europeia.

No ano passado, devido à pandemia de covid-19, a taxa de preparação para reutilização e reciclagem foi de 38 por cento, quando tinha sido 41 por cento em 2019, e a deposição de resíduos urbanos biodegradáveis em aterro foi de 53 por cento, mais do que os 45 por cento do ano anterior.

Nuno Lacasta salientou o “grande desafio” de redução dos resíduos em aterro, explicando que são depositados em aterro 44 por cento, quando a meta de resíduos urbanos em aterro para esta década não vai além dos 10 por cento.

“Vamos ter que passar de 40 por cento para 10 por cento de deposito de resíduos em aterro. E para isso temos de mudar de paradigma, não tenhamos a mais pequena dúvida”, avisou, explicando que para isso é preciso fazer-se a separação dos biorresíduos e continuar e aumentar a separação dos resíduos como o plástico, papel e vidro.

Como positivo, na conferência de imprensa, foi ainda o ministro do Ambiente que salientou a redução das emissões de gases diretamente associadas à energia, a “redução significativa” da dependência energética em relação ao exterior, e a melhoria da qualidade do ar, e da água para consumo.

Nuno Lacasta observou que a qualidade “excecional” do ar em 2020 não quer dizer que nos anos anteriores a qualidade fosse má, o mesmo em relação à água, que se manteve em “excelente nível”.

Noutros números relacionados com o ambiente em 2020 disse que a importação de energia diminuiu 14,7 por cento e que 58,3 por cento da energia elétrica produzida em Portugal teve origem em fontes renováveis. Em setembro deste ano esse valor era de 61,1 por cento, acrescentou.

A apresentação do relatório do Estado do Ambiente é uma obrigação legal da lei de bases do Ambiente. Em 2020 o relatório não foi apresentado devido à pandemia de covid-19.

O relatório pode ser consultado na íntegra AQUI.

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