O tempo da conservação e restauro dos rios e zonas húmidas
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Os ecossistemas de água doce estão entre os mais degradados do mundo. Um relatório recentemente divulgado por um conjunto de organizações de ambiente, revela uma realidade dramática que não surpreende: os rios, lagos e as zonas húmidas estão profundamente alterados à escala global e a sua biodiversidade está ameaçada. De acordo com o relatório, as populações de vertebrados de água doce diminuíram 86% desde 1970 — o dobro do que se verifica nos ecossistemas terrestres ou marinhos — e quase um terço das espécies de peixes de água doce estão em risco de extinção. Vale a pena assinalar que existem mais espécies de peixes em água doce do que em todos os mares e oceanos, e que muitos milhões de pessoas dependem deste recurso alimentar, especialmente em comunidades vulneráveis ??e entre os povos indígenas. Os peixes de água doce são também essenciais para o equilíbrio dos ecossistemas, sustentando muitas cadeias alimentares.
Apesar da situação de emergência ambiental que o relatório tão claramente expressa, o estado crítico dos ecossistemas de água doce tem pouca visibilidade pública. Debate-se intensamente, e ainda bem, a desflorestação e as suas consequências, ou a poluição provocada pelos plásticos, mas as águas doces não conseguem captar a mesma atenção. No entanto, as comunidades humanas dependem do funcionamento e integridade destes ecossistemas para obter água potável, alimento e saneamento. A própria proteção dos rios é habitualmente integrada na proteção terrestre; admite-se que ao proteger a terra se protege o rio que a atravessa, mas é evidente que esta orientação não resulta. (...)
Professora na Universidade de Coimbra
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