O inesperado pode ser esperado

Estive a ler o relatório de 2018 do Future Today Institute (1) Um relatório de muitas páginas com 225 inovações futuristas e muitas tendências, a maior parte tremendas. No entanto, o que mais me surpreendeu ou, talvez deva dizer, o que menos me encantou, foi o facto de não haver nada sobre água. Nada mesmo. Então estamos a admitir inteligência artificial, realidade aumentada/virtual, geotransformação, etc., etc., e continuamos com os nossos arcaicos sistemas de abastecimento de água e esgotos? Indicam-se 225 inovações soberbas e continuaremos a gastar energia para transportar água centenas de quilómetros para as nossas casas e, do mesmo modo, a esventrar periodicamente as cidades e a carregar água suja quilómetros a fio para a despejar num qualquer rio, sem falar nos tais números da miséria - os milhões de pessoas que continuam sem água potável e os que morrem devido a doenças provocadas pela água. Será que a palavra mudança não poderá acontecer na indústria da água?

Assim, a propósito de mudança, tive que ir em viagem e a bateria do computador esgotou-se pelo caminho, pelo que ganhei a oportunidade de terminar uma leitura que aqui já referi (oferecida pela nossa entrevistada deste número, a Eng.ª Alexandra Serra). O livro chama-se “Os próximos 100 anos”, da autoria de George Friedman, e é mais sobre geopolítica do que tecnologia. O seu autor reafirma, em diversas ocasiões, que “o inesperado pode ser esperado.” Como ele refere, “...quem dissesse em 1950 que, 50 anos depois, o Japão e a Alemanha seriam a segunda e a terceira potências económicas, respetivamente, seria apelidado de ridículo. Mas isso não seria menos divertido que, em 1800, afirmar que por volta de 1900, os EUA seriam uma potência mundial. Aliás, para quem dissesse que a China seria a quarta potência económica, a gargalhada seria ainda maior”. Pois bem, quero acreditar que daqui a 30 anos e em muitas partes do mundo a construção de uma nova casa ou bairro será desenvolvida com um pensamento tecnológico inesperado, diferente do convencionalmente esperado.

Por último, gostava de salientar uma recente notícia que apenas peca por tardia. A reutilização de águas residuais para uso agrícola começa a consolidar o seu caminho com a publicação, pela Comissão Europeia, de uma proposta de regulamento. Em Portugal, essa iniciativa é de uma racionalidade óbvia. Não se compreende que somente um pouco mais de 1% das águas residuais tratadas sejam processadas para esse efeito. Eis uma boa notícia em zonas de golfe e culturas agrícolas. Esperemos que esta oportunidade possa trazer algum benefício para o consumidor de água, ele que passa a ser um intermediário valioso. Por outro lado, as empresas portuguesas poderão capitalizar a experiência que irão adquirir para potenciar o seu valor no mercado em África. Há muitos países onde a reutilização de água é necessária.

António Guerreiro de Brito

Membro do Conselho Editorial / Presidente do Instituto Superior de Agronomia

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