Metrologia acústica e ruído ambiente

FOTO SANDIP KALAL/ UNSPLASH
Metrologia e Medições no âmbito da Acústica Ambiental
Atualmente, no campo da Acústica, a realização de medições requer a presença de três componentes fundamentais:
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Equipamento de medição devidamente calibrado e rastreável a um padrão primário de medição, por meio de uma cadeia contínua e documentada de comparações;
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Método de medição previamente definido, preferencialmente normalizado de acordo com normas internacionais reconhecidas;
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Profissional responsável pela medição devidamente treinado e com experiência comprovada na área.
A conjugação equilibrada destes três elementos é indispensável para garantir a comparabilidade dos resultados obtidos por diferentes laboratórios. Tal convergência garante que os valores medidos apresentem níveis de reprodutibilidade compatíveis com os definidos nos protocolos de medição, respeitando a variabilidade específica ao processo.
No domínio da acústica ambiental, o primeiro documento normativo internacional com o objetivo de harmonizar critérios e indicadores para a avaliação e gestão do ruído ambiente foi a recomendação ISO/R 1996, publicada em 1971. Esta recomendação teve vigência por cerca de uma década, sendo posteriormente substituída, nos anos 1980, por uma nova versão composta por três partes. Posteriormente, este conjunto de normas já foi atualizado por duas vezes, sofrendo, na primeira atualização, uma reestruturação em duas partes. A norma relativa à descrição das grandezas fundamentais e métodos de avaliação foi atualizada em 2003 e 2016, enquanto a segunda parte, referente à determinação dos níveis de pressão sonora do ruído ambiente, foi atualizada em 2007 e 2017. As duas últimas revisões desta norma apresentam avanços consideráveis relativamente a procedimentos de medição e respetiva avaliação dos resultados, incluindo diretrizes para o cálculo da incerteza associada; consideração da influência de efeitos meteorológicos na propagação sonora e na avaliação dos efeitos do ruído nas populações, designadamente a quantificação da incomodidade induzida pela exposição ao ruído.
No que diz respeito às aplicações práticas em acústica ambiental, é fundamental considerar o equilíbrio entre a qualidade (exatidão dos resultados) e a eficácia (tempo de processamento e validação dos dados). Neste contexto, as aplicações podem ser categorizadas em três níveis, consoante os objetivos e os requisitos técnicos:
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Aplicações de grande exatidão: São utilizadas em contextos críticos, como litígios judiciais relacionados ao ruído, onde se exige elevada exatidão na amostragem dos níveis sonoros e elevada fiabilidade nos dados de entrada dos modelos de previsão acústica, caso utilizados. Este nível pressupõe medições e cálculos rigorosos, com um elevado grau de detalhe.
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Estudos de impacte ambiental: Apresentam exigências moderadas de exatidão, sendo aplicáveis, por exemplo, à construção de novas infraestruturas de transportes, como a construção de novas vias de comunicação e a implementação de medidas de mitigação de ruído (neste caso pavimentos com caraterísticas de emissão de baixo ruído e/ou barreiras acústicas). Embora nos modelos de previsão se possam utilizar dados de entrada por defeito, é essencial o recurso a dados de entrada específicos do projeto, como o fluxo de tráfego e dados geométricos, que devem ser o mais detalhados possível. Contudo, por exemplo, para os parâmetros meteorológicos, e impedâncias do solo, é aceitável a utilização valores por defeito, uma vez que esta informação sobre médias anuais não está prontamente disponível.
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Elaboração de mapas de ruído: Permite uma abordagem mais generalista, com dados de entrada simplificados, tais como distribuições padrão de tráfego em função da classificação das vias rodoviárias e representações geométricas menos detalhadas, com o intuito de reduzir a complexidade e o tempo de cálculo. Contudo, é imperativo destacar que a exatidão dos resultados finais está intrinsecamente dependente da qualidade dos dados de entrada e das técnicas de amostragem adotadas, o que reforça a importância de um esforço adequado para garantir a representatividade e robustez dos resultados obtidos. (...)
Por Sónia Antunes
Investigadora auxiliar do LNEC
e Jorge Patrício
Investigador Coordenador do LNEC
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