Zero: Indústria de 'pellets' põe em causa floresta portuguesa
A indústria de ‘pellets’, pequenos aglomerados de madeira para aquecimento e produção de energia, consumiu mais de 1,5 milhões de toneladas de madeira em 2021 e põe em causa a floresta portuguesa, alertou a associação ambientalista Zero.
Numa indústria com apoios públicos que ultrapassam já “os cem milhões de euros”, e que deve expandir-se, a associação, em comunicado divulgado, exigiu uma moratória imediata ao aumento da capacidade instalada de produção de ‘pellets’.
É provável que este ano, disse a Zero, “se assista a um aumento significativo na produção, uma vez que quatro fábricas entram em funcionamento ou reabrem, com uma capacidade combinada de quase 600 mil toneladas por ano, representando um aumento de 50 por cento da capacidade” nacional de produção de ‘pellets’.
Tal, alertou, “colocará ainda maior pressão sobre os recursos florestais já de si depauperados e insuficientes para satisfazer a procura para as diferentes utilizações”.
Naquele que é o primeiro Barómetro Anual sobre a Indústria dos ‘Pellets’ em Portugal, da associação, os dados são considerados preocupantes e “colocam em causa a sustentabilidade na utilização de madeira na indústria para a produção de produtos de maior valor acrescentado”.
E a situação em vez de melhorar tende a agravar-se, no entender da Zero, porque o boicote ao gás natural e petróleo da Rússia levará à procura de outras formas de energia e consequentemente mais incentivos ao uso da biomassa.
Nas contas da Zero, em 2021, em Portugal, foram produzidas cerca de 815 mil toneladas de ‘pellets’ de madeira, para as quais foram necessárias as mais de 1,5 milhões de toneladas de madeira.
“Cerca de 510 mil toneladas foram exportadas, na sua maioria, para queimar nas centrais a carvão que foram, entretanto, convertidas e outras centrais de queima de biomassa para produção de eletricidade no Reino Unido, na Dinamarca e na Holanda”, referem os dados do Barómetro.
Portugal tem 26 fábricas de ‘pellets’, com uma capacidade superior a 1,7 milhões de toneladas por ano, precisando de três milhões de toneladas de madeira. O pinheiro-bravo é o mais usado e os subprodutos da serração são só 25 por cento da madeira usada para as ‘pellets’, lê-se no comunicado.
A Zero concluiu que se está a queimar a floresta portuguesa, e com o apoio do Estado. Desde 2008, refere, os produtores de ‘pellets’ receberam mais de cem milhões de euros de financiamento público.
A associação disse ainda que a floresta de pinheiro-bravo está “em declínio acentuado”, e garante: “apesar da indústria de produção de ´pellets´ alegar que apenas os resíduos florestais e industriais são usados como matéria-prima, existem evidências de que os maiores produtores de ‘pellets’ estão claramente dependentes de grandes volumes de rolaria ou secções do tronco de árvores, resultando numa pressão acrescida sobre a floresta”.
A Zero acusou ainda a indústria de dizer que a queima de ‘pellets’ é baixa em carbono e sustentável, quando na verdade as emissões provenientes da combustão das ‘pellets’ “são completamente ignoradas”.
A associação sugeriu ao Governo que aumente a transparência na indústria de produção de ‘pellets’ na aquisição de madeira, e que introduza uma moratória ao aumento da capacidade de produção de ‘pellets’, que está a competir com outros setores que fabricam produtos de maior valor acrescentado e que mantêm o carbono sequestrado por muito mais tempo, como a indústria dos painéis a aglomerados, e ainda que acabe com o financiamento público da produção de ‘pellets’.
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