Edição número 99, A Indústria Alimentar

O número 99 da Indústria e Ambiente é dedicado ao tema Indústria Alimentar.

Vejamos a importância relativa deste setor no contexto económico da UE e de Portugal.

A Indústria Alimentar e Bebidas (IAB) representa, na UE, o maior setor da Indústria Transformadora (IT), em volume de negócios e valor acrescentado, e é o maior empregador, ocupando 15 por cento do emprego na indústria, com um total de 4,2 milhões de pessoas. Integra 287 mil empresas, exporta 76,2 mil milhões de euros (o que representa 16,5 por cento da quota de mercado mundial) importa 63 milhões de euros e contribui com 1,9 por cento do Valor Acrescentado Bruto Europeu (relatório fooddrinkeurope). Também em Portugal, a IAB é o maior setor da IT em termos de volume de negócios (14,6 mil milhões de euros, seguido do têxtil com 8,1 kM), valor acrescentado (2,6 kM euros, seguido do têxtil com 2,3 kM) ficando em 2º lugar na contribuição para o emprego (com 104 mil pessoas, atrás do setor têxtil com 169 mil indivíduos). Acresce que Portugal registou, desde 2000, a maior concentração de atividade económica na Distribuição Alimentar, com um peso relativo de 74 por cento (a Alemanha tem 94 por cento das vendas na grande distribuição). A importância económica da IAB tem-se mantido relativamente inalterada desde o século passado, é um setor que tem um comportamento em contraciclo: as crises e depressões económicas, ou o crescimento muito rápido, não o afetam muito (mesmo num mundo globalizado). A sua estabilidade económica contribui fortemente para que se mantenha um setor forte.

Em conclusão, a IAB não é um setor disruptivo e não apresenta qualquer indicador que mostre alguma tendência nesse sentido.

Entretanto, a Cadeia de Valor Agroalimentar apresenta tendências relativamente coerentes, por parte do consumidor, desde há 10 anos. O consumidor, com o apoio estratégico do setor da Distribuição, muito poderoso, evolui de modo a provocar reestruturações estratégicas na IAB. Vejamos alguns dos atores predominantes e as tendências do consumo alimentar a nível europeu: o grupo da geração do Milénio (grupo 15-34 anos) representa 1/3 da população e é muito bem informado e pouco fiel às marcas; o fresco e saudável, onde o ritmo de crescimento do produto orgânico é de 30% (a nível Europeu), é importante; a procura da alimentação é feita com base na ciência (Relatório INNOVA 2015).

Por isso, para este número temático, reunimos uma série de artigos sobre temas que consideramos relevantes e atuais para o desenvolvimento de uma Indústria Alimentar competitiva e ambientalmente mais sustentável.

Começamos pela importância da nova versão da ISO 14001 para a gestão da qualidade ambiental e a necessidade de uma reflexão adicional sobre as estratégias de gestão de subprodutos e resíduos, reduzindo o impacto das indústrias alimentares no ambiente. É apresentado um caso de estudo onde se evidencia o problema da dimensão e a questão da associação para ganhar escala.

Prosseguimos com o avanço das tecnologias emergentes de processamento de alimentos, nomeadamente o uso da PEF (campos elétricos pulsados) da HHP (alta pressão hidrostática) e do AO (aquecimento óhmico), na eficiência energética e na redução do consumo de água, de combustíveis fósseis, das emissões de CO2 e de efluentes líquidos e sólidos.

Veremos como uma grande indústria de bebidas resolveu estas e outras questões ambientais.

Perceberemos o impacto que os frescos (frutas e hortaliças) têm no ambiente, já que é um setor que tem tido um grande desenvolvimento na última década, com forte aposta na exportação.

Refletiremos ainda sobre o aumento demográfico esperado e a finitude dos recursos, e a consequente necessidade de se encontrarem novas fontes de alimento mais eficientes. Uma das principais tarefas das IAB, e da Academia que as apoia, prende-se com a formação e esclarecimento do consumidor sobre a segurança, benefícios nutricionais e sustentabilidade ambiental destes novos alimentos.

Para terminar, teremos uma entrevista muito interessante sobre agricultura sustentável e competitiva, alterações climáticas e aumento da produção agrícola e autossuficiência na produção, exportação e importação no setor.

Concluindo, não podíamos deixar de referir o papel das tecnologias de informação e comunicação (TIC), que são consideradas um dos vetores de mudança mais importantes dentro do setor alimentar. Logo desde a Agricultura de precisão, onde as TI têm um papel dominante no aumento da produtividade e na redução dos custos de produção, contribuindo para diminuir a contaminação da natureza pelos agrotóxicos utilizados, com forte impacto na sustentabilidade ambiental.

Manter um negócio agroalimentar, um setor altamente competitivo e exigente, determina o uso de elevados padrões de controlo da produção, da qualidade e da segurança alimentar. As TI são fundamentais na área da Qualidade, agilizando todos os processos de registos de dados e de procedimentos e simplificando as certificações, além de serem uma peça chave na garantia da rastreabilidade. Esta prática tem um impacto positivo no ambiente, otimizando os gastos energéticos, diminuindo as pegadas de carbono e de azoto associadas à produção e reduzindo as emissões de efluentes sólidos, líquidos e gasosos. Uma gestão eficiente torna indispensável a utilização de TI que permitam estabelecer Sistemas de apoio à decisão, para sustentar e acelerar a tomada de decisões em tempo real, atingindo maiores ganhos de competitividade e monitorizando ao segundo o andamento do negócio. Estes sistemas incorporaram as boas práticas de produção e, desse modo, são uma ferramenta fundamental para um maior respeito pelo ambiente.

Isabel Sousa (co-editora) e Carlos Noéme

Instituto Superior de Agronomia

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