Estudo identifica variáveis que controlam efeitos da seca nos ribeiros

  • 05 abril 2023, quarta-feira
  • Água

Um estudo coordenado pela Universidade de Coimbra identificou os fatores que controlam os efeitos da seca no funcionamento dos ribeiros, revelou aquela instituição de ensino superior.

O projeto denominado “A meta-analysis of drought effects on litter decomposition in streams” é coordenado pelo Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).

Os investigadores conseguiram quantificar a relação entre a inibição da decomposição dos detritos vegetais e a percentagem de redução nos caudais ou a percentagem de número de dias com leito seco.

Das diversas variáveis estudadas verificou-se “que o tipo de comunidade aquática envolvida no processo de decomposição dos detritos vegetais condiciona a sua resposta à redução de caudal natural (sem intervenção humana direta), afirmou a líder do estudo e investigadora do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) da FCTUC, Verónica Ferreira.

Existe “uma inibição mais forte deste processo, em cerca de 54 por cento, quando a decomposição é realizada conjuntamente pelos microrganismos e pelos invertebrados do que quando a decomposição é realizada apenas pelos microrganismos, sendo a inibição neste caso de cerca de 22 por cento”.

O clima foi outras das variáveis identificadas, tendo-se constatado que “condiciona a resposta da decomposição de detritos à redução de caudal de origem humana, por exemplo, em resultado da abstração de água para consumo ou agricultura, sendo a inibição deste processo mais forte em climas quentes e húmidos (inibição de 66 por cento), do que em climas temperados e mediterrânicos (inibição de 33 e 36 por cento, respetivamente)”.

Verónica Ferreira referiu que foi também quantificada “a relação entre a inibição da decomposição dos detritos vegetais e a percentagem de redução nos caudais: por exemplo, uma redução de caudal de dez por cento inibe a decomposição de detritos em seis por cento, uma redução de 50 por cento inibe a decomposição em 32 por cento e uma redução em 80 por cento inibe a decomposição em 46 por cento”.

Para identificar as variáveis que podem mitigar ou exacerbar os efeitos dos períodos de seca no funcionamento dos ribeiros, os cientistas utilizaram a meta-análise para compilar toda a evidência científica sobre os efeitos dos períodos de seca no processo de decomposição de detritos vegetais (folhas, ramos, etc.) em ribeiros.

Trata-se de um processo “fundamental”, visto que “sustenta a cadeia alimentar aquática e tem um papel importante nos ciclos dos nutrientes e do carbono”.

A investigadora frisou que os resultados conseguidos “permitem perceber que os ribeiros onde os invertebrados sejam naturalmente abundantes e desempenhem um papel importante na decomposição de detritos vegetais terão o seu funcionamento (aqui medido pelo processo de decomposição de detritos vegetais) mais afetado num contexto de aquecimento global que leve à redução do caudal em comparação com ribeiros onde os invertebrados sejam naturalmente pouco abundantes”.

Esta informação “poderá ajudar a identificar ribeiros mais sensíveis e que necessitem de medidas de mitigação”, concluiu.

O estudo contou com a participação do MARE, do Laboratório Associado ARNET – Aquatic Research NETwork, e também com a Universidade do País Basco, em Espanha.

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