Estudo alerta para aumento das concentrações de metano na atmosfera

Fotografia: Annie Spratt_Unsplash

As concentrações de metano na atmosfera continuam a aumentar, a um ritmo que acelerou nos últimos anos, apesar da promessa de muitos países de reduzir drasticamente as emissões deste gás com efeito de estufa, alerta um estudo.

“O metano está a aumentar mais rapidamente, em termos relativos, do que qualquer outro grande gás com efeito de estufa, atingindo agora níveis 2,6 vezes superiores aos da era pré-industrial”, escreveu uma equipa internacional de cientistas sob a égide do Global Carbon Project, num estudo publicado na revista Environmental Research Letters.

O metano (CH4) é o segundo gás com efeito de estufa associado à atividade humana, a seguir ao dióxido de carbono (CO2).

Cerca de 40 por cento do metano provém de fontes naturais, nomeadamente das zonas húmidas, mas a maior parte (cerca de 60 por cento) está ligada às atividades humanas, como a agricultura (criação de ruminantes e cultivo de arroz), os combustíveis fósseis e os resíduos.

O seu potencial de aquecimento é mais de 80 vezes superior, em 20 anos, ao do CO2, mas o seu tempo de vida é mais curto, o que faz dele uma alavanca importante na tentativa de limitar o aquecimento global a curto prazo.

Mas o inventário efetuado pelos cientistas mostra que a trajetória seguida não é a correta e que as concentrações de metano na atmosfera – o metano emitido menos uma parte absorvida pelo solo e por reações químicas na atmosfera – continuaram a aumentar.

O aumento na atmosfera foi de 6,1 milhões de toneladas por ano, em média, na década de 2000, e depois de 20,9 milhões de toneladas na década de 2010.

O crescimento acelerou ainda mais nos últimos anos, a taxas nunca vistas desde o início das medições contínuas na década de 1980, atingindo 41,8 milhões de toneladas em 2020, o dobro da média da década anterior.

“As emissões antropogénicas continuaram a aumentar em quase todos os países do mundo, com exceção da Europa e da Austrália, que apresentam um lento declínio”, disse à agência AFP o diretor executivo do Global Carbon Project e coautor do estudo, Pep Canadell.

Os aumentos foram impulsionados principalmente pelas emissões provenientes da extração de carvão, da produção e utilização de petróleo e gás, da criação de gado bovino e ovino e da decomposição de alimentos e matéria orgânica em aterros sanitários.

Há também causas naturais em jogo. “O aumento em 2020, e em particular nos dois anos seguintes, foi causado por um período bastante excecional do fenómeno La Niña, que traz condições mais húmidas do que a média a muitas partes do mundo, em particular aos trópicos”, explicou Pep Canadell.

Estas condições favorecem a produção natural de metano nas zonas húmidas, em especial nas regiões tropicais, que são a principal fonte natural deste gás.

Em 2020, a luta contra a covid-19 também teve um efeito paradoxal, já salientado por um estudo: a redução dos poluentes relacionados com os transportes (NOx) atrasou indiretamente a eliminação do metano da atmosfera.

A trajetória do metano parece estar desfasada das recomendações dos peritos em clima da ONU para manter o aquecimento global abaixo dos 2°C, e das promessas feitas pelos governos.

Em 2021, a União Europeia e os Estados Unidos lançaram um “compromisso global” para reduzir as emissões globais de metano em 30 por cento até 2030, em comparação com 2020.

Atualmente, este compromisso abrange mais de 150 países, mas não inclui a China, a Índia ou a Rússia.

Estes objetivos “parecem tão distantes como um oásis no deserto”, afirmou o principal autor do estudo, da Universidade de Stanford, Rob Jackson. “Todos esperamos que não sejam uma miragem”.

A China e os Estados Unidos estão a preparar em conjunto uma cimeira sobre os gases poluentes, que não o CO2, incluindo o metano, o que poderá abrir caminho a novos compromissos.

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