Empresas de energia pedem plano para país aproveitar potencial do oceano

As empresas de energia em Portugal estão a apostar no potencial do oceano para produção de eletricidade, mas pedem uma estratégia que permita ao país estabelecer-se como um polo de referência, tanto no eólico offshore como noutras tecnologias oceânicas.

No final do mês de junho, Lisboa vai acolher a Conferência dos Oceanos da ONU, onde serão debatidas formas de conservar e utilizar de forma sustentável os oceanos, os mares e os recursos marinhos, sendo uma das componentes o aproveitamento de energias renováveis oceânicas.

Em Portugal, estão ainda a ser dados os primeiros passos em termos de renováveis offshore, estando neste momento operacional o projeto piloto Windfloat (eólica offshore flutuante), que permitiu a exploração do potencial eólico no mar, em profundidades superiores a 40 metros, tratando-se da primeira implantação eólica offshore em todo o mundo sem recurso às tradicionais estacas que são utilizadas neste tipo de infraestruturas.

Para o presidente da direção da Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN), Pedro Amaral Jorge, há ainda um caminho a percorrer para que Portugal possa tirar partido da sua posição geográfica favorável à exploração do potencial do oceano.

“Portugal pode incorrer no erro de deixar passar ao lado esta oportunidade, se não se estabelecer como um polo de referência, tanto no eólico flutuante offshore como noutras tecnologias de aproveitamento de energias renováveis oceânicas, por falta de uma estratégia coesa para os próximos anos, quando outros mercados avançam com posições bem marcadas neste domínio”, disse à agência Lusa o responsável.

Para a APREN, para que o país possa beneficiar do potencial existente “e dos avanços tecnológicos que se avizinham” nesta área, “precisa urgentemente” de “definir uma estratégia nacional para energia renovável de offshore a curto e longo prazo, analisando o potencial e estabelecendo metas e políticas de expansão”, de “criar mecanismos competitivos e justos que atraiam o investimento com criação, em Portugal, das cadeias de valores e geração de emprego” e de “continuar a apostar na investigação e desenvolvimento de tecnologias de aproveitamento das ondas e marés”.

Pedro Amaral Jorge destacou ainda a necessidade de planear e coordenar os investimentos em infraestrutura de rede elétrica e, eventualmente, de pipeline de hidrogénio, para tecnologias offshore e atualizações de acordo com novas metas de descarbonização, bem como de apoiar investimentos nacionais no desenvolvimento de nova infraestrutura portuária que permita o desenvolvimento e construção das infraestruturas a serem posteriormente instaladas ao largo da costa.

Em Portugal, a EDP iniciou a aposta neste tipo de tecnologia, com o desenvolvimento do WindFloat Atlantic, que, após uma fase piloto, entrou em operação em 2020, com três turbinas eólicas, cada uma com uma potência instalada de 8,4 megawatts (MW).

“Na nossa opinião este é o caminho certo, e acreditamos que existem grandes oportunidades de expansão desta tecnologia, quer em Portugal, quer no estrangeiro, que a EDP, via OW [Ocean Winds, a ‘joint venture’ criada pela EDP Renováveis e Engie], já está a explorar para atingir as metas de descarbonização e trazer valor acrescentado à economia”, considerou a EDP, em resposta escrita à Lusa.

Para o grupo liderado por Miguel Stilwell d’Andrade, o objetivo é “ampliar e reforçar” a presença nas geografias onde já opera, como por exemplo no Reino Unido, França, Bélgica, Polónia, Portugal, EUA, Coreia e Japão, enquanto continua a identificar novas oportunidades no mercado.

“Os países com marcos regulatórios mais estáveis e naturalmente onde se estão a organizar concursos ou oportunidades greenfield [onde se possa construir do zero] são a nossa prioridade, como por exemplo Itália, Noruega, Grécia, Irlanda, Espanha, Lituânia e Holanda, na Europa e Brasil”, apontou a elétrica.

Atualmente, a capacidade global de energia eólica offshore é quase de 41 gigawatts (GW), tendo entrado em operação, em 2021, quase metade dessa capacidade (21 GW), prevendo-se que a capacidade instalada alcance mais de 200 GW até 2030, a nível mundial.

Apesar de ter um custo nivelado de produção de eletricidade (LCOE, na sigla inglesa) mais alto do que o das tecnologias mais tradicionais onshore, a tendência, apontou a APREN, é de aproximação do offshore aos valores onshore.

De acordo com a WindEurope, associação sediada em Bruxelas, Bélgica, que promove o uso da energia eólica na Europa, o LCOE para esta tecnologia andará entre 53 e 76 euros por megawatt/hora (MWh) em 2030, menos de metade do que se verifica atualmente, enquanto em 2040 os custos deverão baixar para 30 a 50 euros por MWh.

No entanto, para Pedro Amaral Jorge, no atual contexto que se vive de crise energética, há outras questões que importa ter em consideração, como a segurança de abastecimento, a independência energética e a previsibilidade de custos a prazos de dez anos.

“Ao dia de hoje, seria mais barato produzir e consumir eletricidade eólica offshore quando comparada com os preços do mercado grossista ibérico, determinados pelos preços do gás natural e das licenças de emissão de CO2 [dióxido de carbono]”, realçou o responsável da APREN.

Para a Iberdrola, empresa espanhola que opera em Portugal, uma das suas principais plataformas de crescimento é o desenvolvimento da tecnologia eólica offshore, tendo 1 258 MW em operação, com planos para colocar mais sete mil MW em operação até 2027, dos quais 2 600 MW já estão em construção.

Para o grupo espanhol, “a chave para aproveitar o potencial eólico offshore de um país passa pela revisão dos Planos de Ordenamento do Território Marítimo, que consideram as áreas mais viáveis para a eólica offshore em coexistência com outros usos do mar”, bem como “um quadro regulatório que permita um processamento ágil das licenças e um esquema de remuneração que estimule o investimento e dê visibilidade ao investidor”.

Conforme destacou a APREN, ao nível da energia das ondas e marés, Portugal tem sido palco de projetos de exploração de energia marinhas, mas todos em fase de demonstração e experimentais.

A primeira central em Portugal foi instalada em 1999 em Porto Cachorro, Ilha do Pico, Açores, para aproveitamento da energia das ondas, primeira no mundo à escala real ligada à rede de distribuição de eletricidade, com potência de aproximadamente 400 quilowatts (kW). Esteve em funcionamento com operação autónoma sobretudo em 2010, tendo tido o seu fim em 2018, por razões de segurança da estrutura.

Já ao largo da Aguçadoura, Póvoa de Varzim, existiram dois projetos: o protótipo Archimedes Wave Swing, com uma potência instalada de dois MW, foi instalado em 2004 e esteve em funcionamento durante um ano; e o Pelamis, instalado em 2008, que esteve em funcionamento apenas três meses, devido a problemas técnicos.

Em 2012 entrou em funcionamento, perto da costa de Peniche, um dispositivo de tecnologia denominada WaveRoller, uma central que tinha cem kW de potência e ligação e esteve em operação até 2014.

“Qualquer um destes projetos, apesar dos importantes desenvolvimentos tecnológicos que permitiram aprofundar o conhecimento, demonstraram resultados de desempenho abaixo das expetativas, continuando a necessitar de maior investimento ao nível da investigação e desenvolvimento”, apontou a APREN.

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