Como a digitalização da reciclagem pode fazer parte da resposta para a criação de hábitos mais sustentáveis

FOTO ALEKSANDRA SUZI / SHUTTERSTOCK

O desafio global dos resíduos e a posição de Portugal

A crise global dos resíduos é um dos maiores desafios do século XXI. Com a produção de lixo a crescer 70 % até 2050 (atingindo 3,40 mil milhões de toneladas anuais segund o World Bank, 2023), os países enfrentam pressão crescente para abandonar o modelo linear "extrair-produzir-descartar" e adotar economias circulares. A União Europeia estabeleceu metas ambiciosas, como reciclar 65 % dos resíduos urbanos e reduzir a deposição em aterro para 10% até 2035.

Segundo o Parlamento Europeu, “a quota de resíduos urbanos reciclados aumentou de 19 % em 1995 para 48 % em 2022, enquanto que no mesmo período de tempo a quota de resíduos depositados em aterros caiu de 61 % para 23 %”. Trata-se da realidade europeia, mas se olharmos para o último relatório da Agência Portuguesa do Ambiente (APA, 2023), custa a acreditar que em Portugal apenas 29 % dos resíduos urbanos são preparados para reutilização e reciclagem e 59 % dos resíduos produzidos são enviados para aterro.

m 2023, cerca de 76 % dos resíduos recolhidos em Portugal foram recolhidos de forma indiferenciada (lixo comum), enquanto apenas 23 % foram recolhidos de forma seletiva (reciclagem). Isso significa que uma percentagem significativa dos resíduos potencialmente recicláveis não está a ser reciclada. Esta lacuna reflete a falta de investimento e capacitação das infraestruturas existentes para responderem ao crescente aumento de resíduos e, mais importante, a falta de envolvimento e interesse público na primeira fase de separação dos resíduos urbanos.

Esta dissonância entre intenção e ação exige soluções que vão além da sensibilização e educação, integrando hábitos comportamentais e inovação digital para redefinir a forma como olhamos para os resíduos e o valor que lhes atribuímos.

Do descartar linear à responsabilidade circular

Na ótica da economia circular, os resíduos representam estágios intermédios no fluxo contínuo de materiais, onde o conceito de “fim de vida” é eliminado. Cada item descartado – uma garrafa de plástico, uma bateria de telemóvel – mantém valor como matéria-prima para novos ciclos, por isso devemos ser tão responsáveis pela reciclagem como somos pelo seu consumo. Mas concretizar este potencial exige responsabilização em toda a cadeia:

  • Produtores: Projetar e incentivar produtos para tratamento e reciclagem.
  • Consumidores: Separar corretamente os resíduos.
  • Municípios: Otimizar recolha, processamento e envolvimento público.
  • Comércio: Criar programas de devolução e recompensas.

Esta visão alinha-se com o Plano de Ação para a Economia Circular da UE, mas falha sem ferramentas que envolvam os cidadãos e sincronizem os intervenientes.

Com vista a superar estas lacunas nasceu a Trash4Goods, uma startup portuguesa incubada na Unicorn Factory Lisboa e Terinov, cuja missão passa por educar e recompensar ações de reciclagem através de uma aplicação móvel com um modelo híbrido que combina estímulos comportamentais e rastreabilidade, tirando partido da integração entre contentores integligentes e um dispositivo IoT que todos nós conhecemos: o nosso smartphone.

Este ecossistema integrado aproveita a elevada taxa de penetração de smartphones em Portugal (87 % da população, ANACOM 2023), aplica princípios de gamificação comprovados (que aumentam a adesão sustentável em 25-40 % segundo estudos científicos) e estabelece um ciclo virtuoso de recompensas proporcionais ao impacto ambiental gerado, conectando cidadãos, municípios, empresas e retalhistas num sistema coeso. (...)

Por António Pegado
Aluno de doutoramento em Engenharia Eletrotécnica
e de Computadores na NOVA FCT
CTO na Trash4Goods

Leia o artigo completo na Indústria Ambiente nº 151, mar/abr 2025, dedicada ao tema "IoT e Ambiente". 

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