Dia Mundial da Água: As perdas do consumidor e da indústria

  • 22 março 2023, quarta-feira
  • Água

O Dia Mundial da Água é assinalado esta quarta-feira em Portugal com várias iniciativas e alertas.

Detetadas perdas de água elevadas em 80% dos municípios

Elevadas perdas de água foram detetadas em 80 por cento dos municípios, anunciou a Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável, segundo a qual a água não faturada, em 2021, representou perdas económicas de 347 milhões de euros.

Por ocasião do Dia Mundial da Água, que se assinala a 22 de março, a Zero defendeu que o regime de tarifas deverá “assegurar a tendencial recuperação dos custos com a prestação dos serviços, em respeito pelo princípio do utilizador pagador”.

Os dados foram obtidos a partir de uma análise ao Relatório Anual dos Serviços de Água e Resíduos de Portugal, de 2022 (relativo a 2021), da Entidade Reguladora da Água e dos Resíduos.

“Das 76 entidades gestoras, em baixa, com cobertura de gastos deficitária, 60 apresentaram também elevadas perdas de água (não faturada)”, destacou a Zero em comunicado.

A água não faturada representa toda a água que, depois de captada, tratada, transportada, armazenada e distribuída, não chega a ser faturada, quer pelas perdas reais, quer pelo uso autorizado ou não autorizado, sublinhou a organização.

A água não faturada tem rondado, ao longo da última década, 30 por cento da água que entra no sistema, o que, em 2021, no serviço em baixa, correspondeu a 237 milhões de metros cúbicos, representando perdas económicas de cerca de 347 milhões de euros, tendo em conta o preço médio do serviço de abastecimento de água, especifica-se no documento.

Para a Zero, a sustentabilidade dos serviços fica comprometida com as perdas em causa.

Segundo a associação de defesa do ambiente, as entidades gestoras praticam “tarifas incapazes de garantir a cobertura integral dos gastos”. A maioria funciona em sistema de gestão direta pelos municípios, que “recorrem frequentemente aos orçamentos municipais para subsidiar os serviços de forma pouco transparente, desviando verbas que poderiam apoiar de forma mais eficaz o desenvolvimento económico dos territórios”, na opinião dos ambientalistas.

“Esta situação é agravada pelo limitado poder regulatório que a Entidade Reguladora possui em relação às tarifas aplicadas, traduzindo-se num incumprimento generalizado dos princípios do utilizador-pagador e do poluidor-pagador previstos na Lei de Bases da Política de Ambiente”, lê-se no comunicado.

“A recuperação dos gastos pelas entidades gestoras pela via tarifária e o consequente e significativo aumento das tarifas imputadas aos consumidores é uma medida que a Zero vê como absolutamente necessária, pese embora tenha de ser aplicada com garantias da existência de tarifários que discriminem positivamente os cidadãos mais desfavorecidos e as entidades da economia social”, sustentou a organização.

H2OFF – Hora de fechar a torneira

No Dia Mundial da Água, a Comissão Especializada de Comunicação e Educação Ambiental da APDA – Associação Portuguesa de Distribuição e Drenagem de Águas volta a desafiar o país a fechar a torneira entre as 22 horas e as 23 horas, num gesto deliberado e consciente.

O movimento, que se realiza pelo terceiro ano consecutivo, tem o objetivo de motivar a mudança consciente de comportamentos sobre o uso correto e eficiente da água, em prol da proteção e preservação da mesma.

Indústria portuguesa desperdiça 20% da água que utiliza

De acordo com o Plano Nacional de Gestão de Recursos Hídricos (PNGRH) 2021-2027, estima-se que a indústria portuguesa desperdice 20 por cento da água que utiliza, principalmente devido à falta de monitoramento, processos ineficientes e vazamentos.

A Eco-Oil, empresa especializada no tratamento de águas contaminadas, alerta para três formas como a indústria pode tornar-se mais ecológica:

  1. Reutilização da água: Na indústria, a sua reutilização da água pode ser feita de várias maneiras, como por exemplo, a partir da utilização de sistemas de tratamento de água que permitem que a água seja reutilizada várias vezes. Atender a esta preocupação, resulta na redução do consumo desnecessário de água, bem como minimiza a contaminação do solo e das águas do mar, ao evitar o descarte incorreto de águas contaminadas.
  2. Utilização de fontes de energia sustentáveis: A utilização de combustíveis sustentáveis é uma alternativa ecológica que visa reduzir o impacto ambiental da indústria. Este tipo de fuel é produzido a partir de resíduos que, outrora seriam descartados no meio ambiente, mas que, através de processos inovadores, são utilizados como matéria-prima de um novo combustível. Além disso, estes fuels reduzem significativamente as emissões de gases poluentes para o ecossistema, contribuindo assim para a redução da pegada carbónica.
  3. Adoção de processos de produção mais sustentáveis: A implementação de práticas, tais como a redução do uso de plásticos, introdução de produtos reciclados na cadeia de produção, automatização de processos, entre outros, pode contribuir significativamente para a melhoria da eficiência energética. A adoção dessas práticas é também uma oportunidade para as empresas reduzirem os seus custos e aumentarem a sua competitividade no mercado.

O desperdício alimentar também significa desperdício de água

A aplicação Too Good To Go, empresa de impacto social por detrás do maior mercado mundial de excedentes alimentares, assinala o Dia Mundial da Água ao sensibilizar para o impacto do desperdício alimentar nos recursos de água doce, assim como o simples gesto de salvar alimentos pode desempenhar um papel significativo na valorização dos recursos limitados e ter um impacto positivo no planeta.

Em comunicado, a Too Good To Go refere que a produção global de alimentos consome uma elevada quantidade de água, estimada em cerca de 70 por cento dos recursos mundiais de água doce, e o desperdício alimentar global representa 24 por cento de toda a água utilizada na agricultura, de acordo com o relatório da FAO de 2013.

Tal realça a necessidade de reduzir o desperdício alimentar para ajudar a conservar este precioso recurso. Por exemplo, uma única maçã requer aproximadamente 125 litros de água para crescer (Water Footprint), e se essa maçã for desperdiçada, toda a água utilizada na sua produção também será desperdiçada, exemplifica a empresa.

Abordar a ligação água-alimentos exigirá um esforço de colaboração entre governos, organizações da sociedade civil e o setor privado, juntamente com investimentos sustentados na investigação e desenvolvimento de sistemas sustentáveis de água e alimentos.

“Reduzir o desperdício alimentar e promover o consumo sustentável é o cerne da missão da Too Good To Go. Estamos conscientes do impacto significativo que o desperdício alimentar tem em vários recursos. Ao evitar o desperdício de alimentos, a comunidade Too Good To Go pode não só ajudar a reduzir as emissões de gases com efeito de estufa associadas à produção alimentar, mas também contribuir significativamente para a conservação dos recursos hídricos”, disse a diretora de Marketing da Too Too Good To Go em Espanha e Portugal, Mariana Banazol.

A pegada hídrica pode variar de acordo com o local de produção e os métodos utilizados, mas dá uma ideia da quantidade significativa de água necessária para produzir alimentos.

A Too Good To Go deixa alguns exemplos que ilustram como diferentes tipos de alimentos têm uma pegada hídrica muito diferentes.

  • Café: Uma chávena típica de café (125 ml) requer aproximadamente 140 litros de água, principalmente para cultivar a planta do café e processar os grãos.
  • Leite: A produção de um litro de leite requer cerca de mil litros de água. Esta água é utilizada para os bebedouros de animais, produção de rações e instalações de processamento.
  • Banana: Desperdiçar uma banana é o equivalente a tomar um duche durante dez minutos.
  • Chocolate: Para produzir um quilo de chocolate são necessários cerca de 17 mil litros de água, a maioria dos quais é utilizado para cultivar e processar as sementes de cacau.
  • Arroz: São necessários cerca de 2 500 litros de água para produzir um quilo de arroz.
  • Ovos: Um ovo de 60 gramas tem uma pegada hídrica de cerca de 200 litros.
  • Abacate: O abacate é uma cultura muito intensiva em água, requerendo cerca de dois mil litros de água para produzir um quilo da fruta.
  • Baguete: Uma baguete tradicional francesa tem uma pegada hídrica de 155 litros de água.

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