Aquecimento global ameaça cidades costeiras

A subida do nível do mar, as inundações e a intensificação das ondas de calor estão a ameaçar as cidades costeiras de todo mundo, segundo o relatório provisório do Painel Intergovernamental de Especialistas sobre a Evolução do Clima.

De Bombaim a Miami, Daca ou Veneza, estas cidades e os seus milhões de habitantes que vivem na foz dos estuários ou nas linhas sinuosas da costa estão “na linha da frente” da crise climática que corre o risco de redesenhar os mapas dos continentes, aponta o relatório provisório do Painel Intergovernamental de Especialistas sobre a Evolução do Clima (IPCC, na sigla em inglês), citado pela agência de notícias France-Presse (AFP).

“O nível do mar continua a subir, as inundações e as ondas de calor são cada vez mais frequentes e intensas e o aquecimento aumenta a acidez do oceano”, referem os cientistas neste relatório de quatro mil páginas sobre os impactos das mudanças climáticas.

Os peritos climáticos dizem ser necessário “fazer escolhas difíceis”.

Sob o efeito combinado da expansão dos oceanos e do degelo causado pelo aquecimento, a subida do nível do mar também ameaça contaminar os solos agrícolas com água salgada e engolir infraestruturas estratégicas, como portos ou aeroportos.

Um “perigo para as sociedades e para a economia mundial em geral”, alerta o IPCC, sublinhando que cerca de dez por cento da população mundial e dos trabalhadores estão a menos de dez metros acima do nível do mar.

“E para algumas megalópoles, deltas, pequenas ilhas e comunidades árticas, as consequências podem ser sentidas muito rapidamente, durante a vida da maioria das populações atuais”, é referido no documento.

De acordo com os peritos, o nível do oceano pode subir 60 centímetros até ao final do século.

“O destino de muitas cidades costeiras é sombrio sem uma queda drástica nas emissões de CO2”, dizem os peritos, acrescentando que “qualquer que seja a taxa dessas emissões, o aumento do nível dos oceanos acelera e continuará a ocorrer durante milénios”.

“A maioria das cidades costeiras pode morrer. Muitas delas serão dizimadas por inundações de longo prazo. Em 2050, teremos uma imagem mais clara”, disse Ben Strauss, da organização Climate Central.

Mas, apesar dessas previsões sombrias, as cidades costeiras continuam a crescer, multiplicando as vítimas em potencial, especialmente na Ásia e na África.

Segundo o documento, um aquecimento global acima do limiar de 1,5 graus centígrados, fixado pelo acordo de Paris, teria “impactos irreversíveis para os sistemas humanos e ecológicos”, com os peritos a frisarem que a sobrevivência da humanidade pode estar ameaçada.

Com as temperaturas médias a subirem 1,1 graus centígrados desde meados do século XIX, os efeitos no planeta já são graves e tornar-se-ão cada vez mais violentos, ainda que as emissões de dióxido de carbono venham a ser reduzidas, alertam os peritos.

Falta de água, fome, incêndios e êxodo em massa são alguns dos perigos destacados pelos peritos da ONU.

O relatório de avaliação global dos impactos do aquecimento, criado para apoiar decisões políticas, é muito mais alarmante que o antecessor, divulgado em 2018.

O documento deverá ser publicado em fevereiro de 2022, após a aprovação pelos 195 Estados-membros da ONU e depois da 26.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, marcada para novembro, em Glasgow, na Escócia.

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