Em muitos países, a agricultura ainda é o maior poluidor da água

A habitação, a indústria e a agricultura são fatores-chave na poluição da água, mas a agricultura ainda é, em muitos países, o principal poluente. Esta é uma das conclusões do relatório da FAO “More people, more food, worse water”.

Estima-se que apenas 44 por cento da água doce utilizada todos os anos (de um total de 3928 km3) seja consumida, essencialmente através de evapotranspiração através da irrigação. Os restantes 56 por cento são libertados para o ambiente na forma de águas residuais urbanas (aproximadamente 330 km3), águas residuais industriais (cerca de 660 km3) e esgotos agrícolas (aproximadamente 1260 km3).

A composição e o nível de tratamento destas águas é variável, sendo também por isso variáveis os riscos para a saúde humana e para o ambiente.

Em termos globais, 80 por cento das águas residuais urbanas são libertadas no ambiente sem serem tratadas, e a indústria é responsável pela deposição de toneladas de metais pesados, solventes, lamas tóxicas e outros resíduos nas massas de água todos os anos. Apesar disso, a irrigação é o maior produtor de águas residuais em volume, e o gado produz bastante mais matéria fecal do que os humanos. Também é da atividade agrícola que provêm grandes quantidades de agroquímicos, matéria orgânica, resíduos de medicamentos, sedimentos e esgotos salinos.

A agricultura industrial

A agricultura industrial está entre as principais causas de poluição da água, especialmente nos países com mais rendimentos e em muitas economias emergentes. O nitrato proveniente da agricultura é o contaminante mais comum das águas subterrâneas. Na União Europeia, 38 por cento das massas de água estão sob pressão significativa por causa da poluição agrícola, e nos Estados Unidos a agricultura é a maior fonte de poluição de rios e riachos. Na China, a quase totalidade da poluição das águas subterrâneas está relacionada com a agricultura. Nas economias emergentes, as águas residuais industriais e municipais são uma grande fonte de preocupação. O papel da agricultura ainda é pouco claro mas suspeita-se tenha uma importância crescente na degradação da qualidade da água. A aquacultura está, aliás, a emergir enquanto agente poluidor da água. Os excrementos dos peixes e a comida que fica por ingerir degradam a qualidade da água. O aumento da produção acarreta o recurso a cada vez mais antibióticos, fungicidas e anti-incrustantes, que podem poluir os ecossistemas.

Custos económicos e de saúde

Os efeitos nefastos da acumulação de pesticidas na água e na cadeia alimentar já levaram à decisão de banir alguns destes contaminantes, como o DDT ou os organofosfatos, mas em países em desenvolvimento alguns destes químicos ainda são utilizados, o que conduz a problemas crónicos de saúde. Outro problema associado à poluição é a eutrofização causada pela acumulação de nutrientes em lagos e águas costeiras, com efeitos na biodiversidade.

Nos Estados Unidos, estima-se que a poluição por nitrogénio tenha um custo anual entre os 35 e os 230 de euros biliões por ano. Uma boa parte destes custos está relacionada com danos causados aos ecossistemas aquáticos, deterioração da qualidade humana e consequentes impactos na saúde humana. A OCDE estima que, só nos seus países membros, o custo da poluição causada pela agricultura exceda os biliões de dólares anuais.

Como se resolve (ou pelo menos mitiga) o problema?

Diagnóstico, previsão e monitorização. Para a FAO, o desenho de medidas económicas e simultaneamente eficazes de prevenção da poluição e mitigação dos riscos reside na capacidade de conhecer o estado dos ecossistemas aquáticos, a natureza e a dinâmica dos fatores que despoletam a poluição, as pressões que levam à degradação da qualidade da água e os impactos dessa degradação na saúde humana, na economia e no ambiente.

A natureza difusa dos contaminantes dificulta, no entanto, o trabalho de identificação e quantificação destes agentes e a determinação da sua influência na degradação da qualidade da água. Uma melhor monitorização dos dados, em conjunto com práticas de modelação, são, para a FAO, aspetos chave para perceber as causas e efeitos da poluição da água e planear as respostas mais adequadas.

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