Projeto p3lp: Missão de Cabo Verde visita fábrica Janz
Texto e fotos por Carlos Alberto Costa
O ambiente dinâmico na fábrica de onde em 2016 saíram cerca de 450 mil contadores de água e um milhão de kits hidráulicos e relojoarias foi o cenário ideal para a troca de experiências entre industriais e responsáveis pela gestão da água, em Cabo Verde e em Portugal.
Realizada no âmbito do projeto Pontes e Parcerias nos Países de Língua Portuguesa (p3lp) a visita à unidade fabril fazia parte do programa da Missão inversa Cabo Verde, que decorreu de 13 a 17 de fevereiro, entre Lisboa e o Ribatejo.
A iniciativa pretendeu gerar a interação entre os membros da delegação africana e os representantes e associados da Parceria Portuguesa para a Água (PPA), a entidade de apoio à internacionalização das empresas nacionais no setor.
Constituída por Hércules Vieira, presidente da Agência Nacional de Água e Saneamento (ANAS) Orlando Delgado, presidente da Câmara da Ribeira Grande de Santo Antão, Nilton Gomes vereador na Câmara Municipal de Paul de Santo Antão, José Monteiro, José Barbosa e Alberto Brito, todos da empresa intermunicipal Águas de Santiago SA, a delegação cabo-verdiana percorreu as instalações da Janz na companhia de responsáveis da empresa e de cerca de uma dezena de convidados ligados ao setor das Águas em Portugal, incluindo os presidentes da APDA (Associação Portuguesa de Distribuição e Drenagem de Águas) e da AEPSA (Associação de Empresas Portuguesas do Setor do Ambiente), respetivamente Nelson Geada e Francisco Mariz Machado.

Em declarações à ‘Indústria e Ambiente’, Hércules Vieira, presidente da ANAS, explica que o seu país está atualmente “num processo de consolidação da organização da governança global do setor da Água.”
“Este processo de reforma resultou já na criação da agência e também na criação da Empresa Intermunicipal Águas de Santiago SA, mas temos ainda desafios de organização das instituições e a nível de gestão das infraestruturas dos sistemas, seja de água, seja de saneamento de águas residuais”, refere o presidente da ANAS.
Questionado sobre as expectativas em relação à visita da missão cabo-verdiana a Portugal, Hércules Vieira valorizou a “oportunidade de conhecer experiências que podem servir de boas práticas para Cabo Verde mas também a possibilidade de as empresas portuguesas apoiarem as empresas cabo-verdianas, sobretudo no domínio do saneamento de águas residuais”, uma das áreas problemáticas no arquipélago africano.

Hércules Vieira, ANAS
Água e aeronáutica…
Numa breve intervenção perante os convidados, João Mugeiro, Gestor de Negócios Internacional, e Ricardo Cordeiro, Administrador e Diretor Comercial da Janz, apresentaram o portefólio do grupo empresarial Janz. Fundado há 100 anos, para além do fabrico de contadores de água e de componentes tem presença em setores como a reciclagem, o mobiliário urbano e os equipamentos para parqueamento automóvel. Em 2016 saíram das linhas fabris 420 mil contadores de água, um milhão de kits hidráulicos e relojoarias e cerca de 5 milhões de outras peças para contadores, dispositivos aeronáuticos, ótica e até implantes dentários. A Janz exporta 75% da sua produção fabril.
“Temos sistemas construídos que não funcionam ou funcionam muito mal em termos de recolha mas também há dificuldades no tratamento das águas residuais para reutilização, o que coloca também problemas ambientais. O nosso foco é a reutilização, embora preservando o meio ambiente”, salienta o presidente da ANAS.
Porém, este não é o único desafio para o setor em Cabo Verde. “Temos que gerir as águas superficiais. Só muito recentemente começámos a construir barragens para reter a água das chuvas e para a reutilizar para vários usos. Nesse campo não temos experiência, desde a segurança da barragem, do planeamento, do ordenamento das albufeiras, da gestão da própria água retida na barragem. Estou a ver entidades públicas portuguesas como o LNEC ou como a APDA a apoiar Cabo Verde nesse domínio, mas também empresas privadas que têm experiência no tratamento e gestão de águas superficiais”, acrescenta Hércules Vieira.
Sobre a expectativa imediata para esta missão a Portugal, o presidente da ANAS aponta para o reforço dos laços bilaterais, seguindo o exemplo do recente protocolo de cooperação ambiental assinado pelos ministros do Ambiente dos dois países, sendo uma das áreas da pareceria precisamente a questão dos planos de segurança e acompanhamento das estruturas das barragens.
Cabo Verde tem minorado o deficit hídrico através da dessalinização da água do mar. Atualmente, 61% da água de abastecimento em Cabo Verde é gerada por este processo, com tendência para aumentar.
“Nós temos falta de chuva, temos ilhas que não têm água subterrânea tecnicamente explorável, como é o caso caso das ilhas turísticas, por exemplo Sal e Boavista, e, por isso, temos que fazer dessalinização. É um recurso e uma opção estratégica para Cabo Verde. E tem dado resultados. Hoje em dia temos empresas já com experiência muito bem consolidada na produção de água dessalinizada para consumo público”, conclui Hércules Vieira.
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