Recuo glacial na Antártica Ocidental começou na década de 1940

Fotografia: henrique setim_Unsplash

Os glaciares Thwaites e Pine Island, dois dos mais importantes da Antártica Ocidental, iniciaram o seu recuo significativo já na década de 1940, partilhando uma história comum de diminuição, de acordo com um estudo.

Uma equipa liderada pela Universidade de Houston (EUA), que publica a revista PNAS, estudou a história do glaciar Thwaites, o mais largo do mundo e com cerca de 130 quilómetros, e os seus resultados coincidem com estudos anteriores sobre o recuo do Pine Island.

O Thwaites perde cerca de 50 mil milhões de toneladas de gelo a mais do que recebe na forma de neve, o que põe em risco a sua estabilidade. Um processo acelerado que se observa desde a década de 1970, mas o novo estudo situa o início desta mecânica na década de 1940.

Os resultados da nova investigação sobre a glaciar Thwaites coincidem com trabalhos anteriores que estudaram o recuo do glaciar Pine Island e descobriram que também começou na mesma década.

“Uma implicação significativa das nossas descobertas é que, uma vez iniciado o recuo da camada de gelo, este pode continuar durante décadas, mesmo que o que começou não piore”, frisou James Smith, do British Antártico Survey e co-autor do estudo, citado pela agência Efe.

A equipa sugere que o primeiro retrocesso de Thwaites foi provavelmente desencadeada por um padrão climático extremo do El Niño que aqueceu a Antártida Ocidental, do qual não recuperou, e que atualmente contribui com quatro por cento para a subida global do nível do mar.

Se o glaciar entrar em colapso total, estima-se que o nível global do mar subiria 65 centímetros.

É significativo que o El Niño tenha durado apenas alguns anos, mas que Thwaites e Pine Island ainda estejam em recuo acentuado, indicando que “uma vez que o sistema se torna desequilibrado, o recuo é contínuo”, apontou a também autora do estudo, Julia Wellner, da Universidade de Houston.

O mais importante desta investigação, de acordo com a líder da equipa, Rachel Clark, é que esta mudança “não é aleatória ou específica de um glaciar”, mas faz parte de “um contexto mais amplo de alterações climáticas”. “Não podemos ignorar o que está a acontecer neste glaciar”, salientou.

A investigação também estabelece que o recuo na zona glacial, ou área onde os glaciares perdem contacto com o fundo do mar e começam a flutuar, foi devido a fatores externos.

Thwaites e Pine Island partilham uma história comum de diminuição e recuo, corroborando a visão de que a perda de gelo na Antártica Ocidental é predominantemente controlada por fatores externos, e não pela dinâmica interna dos glaciares ou por alterações locais, como o derretimento do leito glacial ou a acumulação de neve na superfície.

Thwaites é significativo não só pela sua contribuição para o nível do mar, mas também por atuar como “uma rolha de garrafa” que contém uma área maior de gelo atrás de si.

“Se for desestabilizado, há a possibilidade de que todo o gelo na Antártida Ocidental se destabilize”, alertou Julia Wellner.

De acordo com os autores do estudo, os resultados obtidos irão melhorar os modelos numéricos que tentam prever a magnitude e o ritmo do futuro derretimento da camada de gelo da Antártida e as suas contribuições para o nível do mar.

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