Uma framework para sistemas IoT centrada no utilizador: aplicação prática na indústria hoteleira
- 19 maio 2025, segunda-feira
- Gestão

FOTO A.BYRD / UNSPLASH
Os sistemas de Internet das Coisas (IoT) aplicados à gestão de recursos energéticos e hídricos enfrentam frequentemente limitações quanto à sua implementação e eficácia em edifícios públicos ou partilhados, devido sobretudo à desconsideração dos comportamentos dos utilizadores. Neste artigo, propomos uma framework inovadora que expande a arquitetura tradicional de sistemas IoT, introduzindo duas camadas adicionais orientadas ao utilizador: a Camada de Interação e a Camada de Retenção. É proposta uma aplicação desta framework num ambiente hoteleiro, demonstrando o potencial impacto na poupança de recursos e no envolvimento dos utilizadores. São apresentados os principais componentes da framework e os resultados obtidos num questionário realizado, evidenciando o seu potencial para promover a sustentabilidade no setor hoteleiro.
Introdução
Nos últimos anos, a indústria hoteleira tem demonstrado uma crescente preocupação com o impacto ambiental das suas operações. Entre todas as categorias de edifícios, os hotéis destacam-se como alguns dos mais intensivos em termos de consumo energético, o que pode resultar em consumos significativos de energia e consequências ambientais relevantes, especialmente em destinos turísticos populares. Paralelamente, tem-se verificado um reconhecimento crescente da importância da gestão eficiente de recursos, particularmente no que diz respeito ao uso de energia e água, uma vez que o aquecimento e arrefecimento dos quartos, a iluminação e o uso de água quente são identificados como as principais atividades consumidoras de energia num hotel.
Estado da arte
Em ambientes hoteleiros, os utilizadores frequentemente sentem-se no direito de utilizar tanta energia e água quanto desejarem, uma vez que estão a pagar pela estadia e não são diretamente cobrados pelo seu consumo específico. Ao contrário das suas residências, onde podem estar mais conscientes dos custos, nos hotéis existe uma tendência para banhos mais longos, utilização frequente de ar condicionado ou aquecimento e de deixar luzes e dispositivos eletrónicos ligados. Esta atitude representa um desafio significativo para os hotéis que pretendem promover práticas sustentáveis, reduzir custos e a sua pegada ambiental.
Para enfrentar este problema, algumas tecnologias são tipicamente implementadas, por exemplo, a utilização de cartões-chave necessários para ativar a energia no quarto, garantindo que as luzes e os aparelhos sejam desligados quando os utilizadores não estão presentes, ou até mesmo sistemas que impedem o funcionamento do sistema de Ar Condicionado ou aquecimento enquanto as janelas estiverem abertas, evitando desperdício de energia.
Apesar da aparente eficácia destas medidas, por vezes os utilizadores encontram formas de contorná-las. Além disso, como estes sistemas possuem um caráter mais proibitivo do que incentivador ou informativo, não existe um estímulo positivo na modelação de comportamentos sustentáveis.
Framework Proposta
Os sistemas tradicionais de poupança de recursos carecem frequentemente de abordagens que facilitem a interação dos utilizadores e incentivo à adoção de comportamentos sustentáveis em edifícios públicos ou partilhados, necessários para a redução de consumos e custos. Assim, são necessárias técnicas e tecnologias inovadoras para envolver os utilizadores em práticas sustentáveis sem comprometer o conforto e a sua satisfação. (...)
Por Bruno Mataloto
Doutorado em Ciências e Tecnologias da Informação
Professor Assistente Convidado e responsável pelo
Laboratório de Internet das Coisas no ISCTE-IUL
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