Um terço das espécies de mamíferos avaliadas está ameaçado de extinção
Um terço das espécies de mamíferos avaliadas no “Livro Vermelho dos Mamíferos de Portugal Continental” está ameaçado de extinção, segundo os dados do livro agora apresentado.
Segundo o livro, das 82 espécies avaliadas 27 estão ameaçadas de extinção, com destaque para a toninha (ou Boto), orca e o morcego-rato-pequeno, avaliados como ‘Criticamente em Perigo’.
‘Em Perigo’ estão dez espécies, como o lobo, o lince-ibérico, o gato-bravo e o toirão (carnívoros), a toupeira-de-água, o musaranho-anão-de-dentes-vermelhos e o musaranho-de-dentes-brancos-pequeno (insetívoros) e três espécies de morcegos (morcego-de-ferradura-mediterrânico, morcego-de-ferradura-mourisco e o morcego-lanudo).
Classificados como ‘Vulneráveis’ estão 14 espécies, com o livro a destacar o coelho-ibérico e a lebre-ibérica, mais fragilizados desde a última avaliação, realizada em 2005.
Comparando com os dados da avaliação de 2005, no “Livro Vermelho dos Vertebrados”, os investigadores concluíram que há um agravamento de 22,8 por cento para 29,7 por cento das categorias ‘Criticamente em Perigo’, ‘Em Perigo’, ‘Vulnerável’ e ‘Quase Ameaçada’.
A análise agora divulgada resulta de um maior conhecimento sobre as espécies, mas também, salienta o documento, de uma degradação ambiental dos habitats.
Além da degradação e destruição de habitats pela atividade humana, os responsáveis pela obra indicam como fatores de ameaça as alterações climáticas, o uso de pesticidas e outros produtos tóxicos na agricultura, a contaminação de cursos de água, o controlo de predadores (nos carnívoros) e a sobrepesca ou morte acidental em artes de pesca (para pequenos cetáceos).
O “Livro Vermelho”, o primeiro inteiramente dedicado aos mamíferos, revela que se mantém como ‘Regionalmente Extinto’ o urso-pardo e que diminuíram para cerca de metade as espécies sobre as quais havia informação insuficiente. Passaram de 27,2 por cento em 2005 para 13,9 por cento em 2022.
A percentagem de cetáceos ameaçados aumentou em todas as categorias de ameaça. No caso da orca, que globalmente está listada como espécie com ‘Informação Insuficiente’, o livro refere que “a orca que corre em águas portuguesas pertence à subpopulação do Estreito de Gibraltar que inclui menos de 50 indivíduos maduros. Admite-se um declínio continuado no número de indivíduos maturos na subpopulação”.
O documento apresenta ainda 14 espécies novas no continente, em relação à lista de 2005, incluindo cinco só identificadas recentemente: o morcego-hortelão-claro, o rato-das-neves e três cetáceos (golfinho-pintado-do-atlântico, baleia-de-bico-de-sowerby e baleia-de-bico-de-true).
Os responsáveis pela obra sugerem como medidas de conservação a recuperação de habitats, a criação de mosaicos de habitats naturais ou seminaturais, ou a reabilitação das áreas florestais autóctones. Preconizam também ações em relação à poluição de cursos de água e indicam que para os morcegos é fundamental a proteção legal e física dos abrigos, “que dificultem o acesso de pessoas, mas permitam a circulação dos morcegos”.
O “Livro Vermelho” teve como objetivo compilar informação existente e juntar nova informação obtida no terreno.
A categoria de ameaça foi atribuída com base nos critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), que estima que existam cerca de seis mil espécies de mamíferos em todo o mundo, das quais cerca de 30 por cento atualmente em risco de extinção.
O primeiro “Livro Vermelho” surgiu de uma iniciativa do então Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservação da Natureza, em 1990. Uma nova avaliação foi publicada em 2005 e a obra agora publicada juntou o trabalho de especialistas em mamíferos, técnicos e cidadãos.
Este teve a coordenação científica do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar e do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
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