Sustentabilidade e crescimento: uma equação possível
A Comissão Europeia publicou recentemente o seu relatório anual sobre evolução do emprego e da situação social na Europa.
O relatório foca-se no crescimento sustentável a vários níveis: do ponto de vista do emprego e desenvolvimento social; do crescimento sustentável e desenvolvimento na União Europeia (conceitos e desafios); conceitos económicos e sociais fundamentais, investimento nas pessoas e sustentabilidade social (custos de curto prazo vs benefícios de longo prazo); impactos sociais e no emprego das políticas de alterações climáticas e o papel do diálogo social.
No capítulo das alterações climáticas, os autores do relatório reconhecem a sustentabilidade ambiental como uma das principais dimensões do desenvolvimento sustentável, sendo considerado por muitos como a essência da sustentabilidade. A dimensão ambiental é um conceito alargado, mas o capítulo que os autores do relatório dedicam ao tema foca-se nas complementaridades entre políticas de alterações climáticas e sustentabilidade social, incluindo o papel das políticas sociais, de forma a assegurar uma transição justa para uma economia neutra em termos de impacto no clima.
A ligação entre sustentabilidade social e ambiental é estreita, uma vez que os riscos decorrentes das alterações climáticas e das políticas associadas afetam regiões, setores de atividade, trabalhadores e grupos populacionais.
No que ao emprego diz respeito, os maiores impactos serão sentidos em regiões dependentes de setores económicos que terão de ser sujeitos a grandes transformações para cumprir metas de sustentabilidade. Sem perder de vista ecossistemas e disponibilidade da água e da respetiva infraestrutura de abastecimento, as alterações climáticas têm um forte impacto na agricultura, pescas e produção alimentar, bem como nas rotas de transporte. Por estas razões, em novembro a Comissão Europeia arrancou com uma estratégia de longo prazo tendo em vista uma economia competitiva e próspera mas também neutra em termos climáticos até 2050. Para a Comissão, importa que os impactos da adaptação sejam distribuídos, de forma a evitar desigualdades. O acesso aos recursos naturais e os impactos das alterações climáticas e da poluição são geralmente distribuídos de forma desigual e atingem, com mais probabilidade, trabalhadores pouco qualificados e vulneráveis e famílias de baixos rendimentos. Por outro lado, estes grupos populacionais também serão mais afetados por eventos extremos, dado que não têm os recursos mais adequados para atuar na prevenção ou na reação. A injustiça agrava-se se tivermos em conta que estes grupos populacionais são os que menos contribuem para as alterações climáticas e os que mais sofrem com os seus efeitos.
Emprego sustentável
Em contrapartida aos impactos no emprego, a Comissão reconhece o potencial de empregos sustentáveis e ecoindústrias. Em 2014, a Comissão pôs em marcha uma estratégia de recuperação baseada no emprego, tendo por base a economia verde. Para isso, foi enfatizada a necessidade de preencher lacunas em termos de competências, antecipar mudanças, promover a mobilidade e apoiar a criação de mais emprego. Além disso, a transição para uma economia verde, circular e neutra deverá ter um impacto ligeiramente positivo no emprego, nomeadamente nas áreas da construção e da energia renovável. A ação climática será acompanhada de novas tendências que requerem novas competências, como a digitalização e a automação, pelo que a preparação dos trabalhadores assume um papel primordial. Os autores do documento consideram, inclusive, que desenvolver novas competências especificamente orientadas para a economia verde será menos determinante do que a melhoria das competências existentes.
Consulte o relatório completo em https://ec.europa.eu/social/main.jsp?catId=738&langId=pt&pubId=8219
Outros artigos que lhe podem interessar