“Stress hídrico” afeta produção agrícola e apicultura no Ribatejo Norte

A seca está a causar “stress hídrico” e a afetar a produção agrícola em todo o Ribatejo Norte, disse a associação de agricultores, tendo referido problemas “graves” com as pastagens, a apicultura e os sistemas de captação de água.

“As espécies permanentes estão todas a sofrer, as que não são regadas, porque a seca e esta onda de calor está a pô-las em stress hídrico”, disse à agência Lusa Luís Damas, acrescentando que a produção de sequeiro foi “um desastre nas culturas de primavera e verão” e “uma desgraça para as culturas que apoiavam o gado”, ao nível das pastagens.

O presidente da Associação dos Agricultores de Abrantes, Constância, Sardoal e Mação, no distrito de Santarém, deu conta de “problemas graves” para os produtores e para o gado ao nível das pastagens – “não existem porque a erva não cresceu” –, com produtores “a terem de comprar alimento e dar de comer à mão” aos animais, com “muitos a vender o gado, porque não têm como o alimentar”, numa situação que, considerou, “não é nova”.

“Com o problema da seca a agravar nos últimos anos e as alterações climáticas a acumular”, e apesar da chuva que caiu, “não houve capacidade para repor os níveis freáticos, pelo que os problemas de abastecimento de água afetam todas as culturas, de um modo geral, sejam as provenientes de linhas de água ou as que são captadas por furos ou poços”, acrescentou.

Segundo o gestor agrícola, as linhas de água, como as ribeiras, “estão secas ou a secar, e os poços e os furos de captação de água para rega estão a registar muitas dificuldades em chegar aos lençóis freáticos”, numa situação que, vincou, “tem influência em toda a agricultura”, mas também na fauna, na flora e em todas as espécies, como as abelhas.

“Também as abelhas estão a sofrer muito porque não há flora, secou tudo, e não têm alimento, estando os apicultores a alimentar as suas colmeias”, indicou Luís Damas, tendo feito notar que, neste caso, não é só a quebra de produção de mel que está em causa, mas o “papel fundamental” das abelhas para “fazer o processo de polinização” das plantas.

Se ao nível de culturas como as vinhas, com as vindimas à porta, dos cereais, no caso do milho, e árvores de fruto, como macieiras, amendoeiras e nogueiras, existe um sentimento de “apreensão” e a produção “vai ser menor”, não havendo ainda, no entanto, participação de perdas, às situações “mais dramáticas das pastagens e da apicultura” junta-se a “praga” dos javalis, que têm causado “prejuízos avultados” na agricultura.

“Nas culturas do milho, e em outras, há prejuízos avultados com a praga dos javalis, com uma grande densidade de indivíduos que encontram nos milheirais um habitat com humidade e onde estragam tudo, com quebras de produção muito significativas, a par dos estragos que causam nas pequenas hortas”, afirmou Luís Damas, tendo referido ainda o “impacto que causam nas outras espécies”, a par do “risco da peste suína para a saúde pública”.

Tendo feito notar que, “com a seca e com as alterações climáticas”, os agricultores “vão ter de adaptar as culturas às novas realidades”, Luís Damas disse que há árvores que “estão a migrar para novos territórios”, como o sobreiro, que “está a migrar do Alentejo para o Pinhal Interior e Ribatejo Norte”.

“A natureza está a fazer esse trabalho e os agricultores vão ter de adaptar as suas culturas”, afirmou, dando conta que o processo de “adaptação e de mentalidades” não é feito de um dia para o outro e que “é o fator água que condiciona toda a agricultura”.

Nesse sentido, defendeu a necessidade de se manter um “nível mínimo aceitável” na água do Tejo que corre em Portugal e “não estar dependente” da que Espanha liberta.

Em causa, afirmou, estão cerca de mil hectares de terrenos férteis nas margens ribeirinhas dos concelhos de Abrantes e de Constância, onde as “oscilações dos caudais” de água afetam a produção de milho, trigo e girassol, e as culturas permanentes, como o olival, macieiras e amendoeiras, tendo feito notar que os agricultores “estão dependentes da boa ou da má vontade dos espanhóis em libertar água” a partir da barragem de Alcântara.

“Há um protocolo que define um caudal semanal, mas eles retêm a água e, num dia ou dois, libertam tudo. Queríamos um caudal mínimo diário, mas a solução de fundo era fazer uma barragem no rio Ocreza [afluente do Tejo], que seria um reservatório para não estarmos dependentes de Espanha”, defendeu Luís Damas.

Por outro lado, o representante de mais de 300 agricultores reclama do Governo português a criação de uma “via verde, com apoios financeiros e sem cargas burocráticas”, para que os produtores agrícolas possam criar charcas, pequenas barragens para reservas estratégicas, ter cisternas e sistemas de condutas de transporte de água” para rega das plantações e para dar de beber aos animais.

“Era importante criar esta via verde, sem a carga burocrática que existe, que seria benéfica para toda a atividade agrícola e florestal, assim como para a fauna, flora e regeneração de habitats”, defendeu.

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