Para lá de 2019 e do Roteiro para a Neutralidade Carbónica
Começado há cerca de 18 meses, a execução do Roteiro para a Neutralidade Carbónica (RNC2050) está praticamente a finalizar, uma vez que foram já disponibilizados para consulta pública os resultados da modelação, e que a equipa está a integrar os contributos válidos da mesma consulta no relatório final que se pretende disponibilizar em junho deste ano para o público. Importa, nesta instância, dar conta do que se fez, mas sobretudo das limitações inerentes a um exercício desta natureza e do muito que importará fazer no seguimento do Roteiro, para que este possa ser de real utilidade para os agentes económicos, sociais e políticos.
Importa antes de mais esclarecer que o Roteiro é um estudo prospetivo, de evoluções futuras, que pretende contribuir para a tomada de decisões por forma a facilitar a obtenção de um objetivo – a neutralidade carbónica em 2050. Consequentemente, o Roteiro não é, ao contrário do que algumas reações parecem desvendar, uma Estratégia. Uma Estratégia de Longo-Prazo é um documento de ação, no qual o Estado delineia quais as linhas mestras da sua atuação, e a partir do qual tomam-se decisões profundas sobre as trajetórias, metas e políticas concretas que afetam o rumo das emissões de gases com efeito estufa (GEE) e do sequestro em Portugal.
Entendida a natureza do documento, importa então perceber qual a sua utilidade para o decisor: este Roteiro permite sobretudo confirmar que é possível, de um ponto de vista tecnológico, embora com um esforço de investimento e com alguma alteração de comportamentos e rotinas sociais, atingir a neutralidade carbónica. O Roteiro informa também sobre o “mix” tecnológico e energético que possibilitaria tal feito. No essencial, a par com a digitalização e a robotização, são três os grandes vetores que permitem apontar à neutralidade carbónica:
- a eletrificação dos consumos energéticos;
- a penetração a 100% das fontes renováveis na geração de eletricidade;
- o aumento do sequestro carbónico florestal.
Está atualmente em curso uma revolução no que diz respeito à eletrificação dos consumos energéticos, em particular na mobilidade elétrica. Essa revolução permite antever, com a emergência de novos modelos com novas autonomias, uma evolução acelerada na diminuição da emissão de GEE do setor de transportes, sobretudo no transporte individual e urbano. Essa é a face visível do fenómeno. Não menos importante é o facto de que as novas tecnologias digitais, a par com novos modelos de negócio, permitem antever novos serviços de mobilidade que podem colmatar muita da procura de serviços de mobilidade a partir de um “stock” muito menor de veículos. Se essa tendência se mantiver, o impacto sobre a cadeia de valor de tudo o que é mobilidade ultrapassa em muito a mera substituição de um tipo de tração por outro (gasolina/gasóleo para elétrico).
Pedro Barata (Partner da Get2C)
Artigo publicado na edição nº115 da IA
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