Junho bateu recordes de temperatura do mar

Anomalias de temperatura à superfície do mar / Mercator Ocean International
Junho de 2025 foi o mês de junho mais quente de que há registo, dando continuidade à tendência de 2023 e 2024. Também no mar, as ondas de calor expandem-se e intensificam-se, com 62 % do Mar Mediterrâneo afetado
O oceano funciona como “sentinela” para o aquecimento, conforme se ouviu na conferência de imprensa online que o Mercator Ocean International promoveu na manhã de 8 de julho. O Mercator Ocean é uma organização sem fins lucrativos (a transitar para organização intergovernamental) de monitorização do meio marinho, com recurso a observações de satélite, medições in situ, simulações com modelos 3D e conhecimento de especialistas. Com estes recursos, são produzidas 30 variáveis (temperatura, vento, salinidade, biomas, etc) atualizadas a cada dois minutos.
Os dados permitem perceber que o oceano aquece desde a década de 60, mas a velocidade destas alterações duplicou nas últimas duas décadas.
“Se vemos que o oceano está a aquecer, sabemos que a Terra está a perder o balanço energético”, explicou a consultora científica Karina Von Schuckmann, ou seja, há menos energia a sair do sistema terrestre, comparativamente à recebida, o que leva à acumulação de calor. A maioria deste calor é absorvida pelo oceano (cerca de 90 %), sendo o restante acumulado na atmosfera (cerca de 1 %, no gelo (cerca de 4 %) e no solo (cerca de 5 %), com as consequências devastadoras que se conhecem. É isto que faz do oceano um indicador tão significativo da gravidade do aquecimento, e as ondas de calor marinhas viram a sua frequência praticamente duplicar desde a década de 80. Segundo o IPCC, a influência humana muito provavelmente contribui para a maioria destes fenómenos desde pelo menos 2006.
Estes níveis de aquecimento têm graves consequências que já se fazem sentir: interferência nos padrões climáticos, com o surgimento de ciclones e inundações, impactos na biologia, como a destruição de ecossistemas marinhos e mortalidade em massa de peixes, com as consequências expectáveis a nível económico, e também impactos sanitários, com bactérias na água.
Embora esta alteração seja global, o Mediterrâneo, até por ser uma bacia fechada e, portanto, com menor circulação da água, está mais exposto. Junho de 2025 foi o junho mais quente de que há registo nesta bacia, com a mediana da temperatura à superfície a registar 23.86 ºC. 62 % da superfície do Mediterrâneo foi afetada por ondas de calor marinhas, com junho a destacar-se pela temperatura e extensão dessas ondas de calor. Mas não é só o Mediterrâneo: a nível global, 72 % da superfície do oceano registou temperaturas acima da média, e a 30 de junho já 20 % dessa superfície tinha passado por ondas de calor. A nível global, junho de 2025 foi o terceiro junho mais extremo em termos de intensidade de ondas de calor marinhas, no Atlântico Norte foi o quinto.
Em setembro de 2025, a Mercator Ocean e a Copernicus Marine Service irão lançar a nona edição do relatório sobre o estado dos oceanos. Entretanto, a Mercator irá disponibilizar uma ferramenta interativa que permite aos utilizadores consultar dados sobre a temperatura da superfície do oceano e fazer comparações com outros períodos.
Karina Von Schuckmann apontou para a capacidade de mitigar as alterações climáticas como forma de melhorar este cenário.
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