Recifes de corais de águas quentes: ultrapassado o primeiro ponto de não retorno climático

  • 14 outubro 2025, terça-feira
  • Água

FOTO LI FEI/ UNSPLASH

Vitais para milhões de pessoas e para milhões de espécies, os recifes de corais de água quente estão a passar por uma mortalidade sem precedentes. Relatório Global Tipping Points alerta para a ultrapassagem deste ponto de não retorno, mas também deixa recomendações de preservação

O limite térmico para estes recifes é de 1,2 ºC acima da era pré-industrial, um valor que já foi ultrapassado. Na ausência de medidas severas de mitigação, o limite de 1,5 ºC pode ser ultrapassado já nos próximos 10 anos, alerta o relatório do Global Systems Institute da Universidade de Exeter, no Reino Unido, que será lançado na próxima semana pela WWF Internacional, em antecipação à COP30 – mas mesmo assim, este limite é superior ao ponto de não retorno (ou tipping point) para os corais. Preservar o que resta destes corais e a sua funcionalidade implicaria manter o aquecimento apenas 1 ºC acima da era pré-industrial. Também são necessárias avaliações de risco e apostar na melhoria da gestão destes ecossistemas.

Os corais de água quente não são, contudo, o único ecossistema a causar preocupação. A Amazónia aproxima-se de pontos de não retorno ecológico por causa das interações entre o clima e o uso do solo, que podem desencadear uma degradação florestal em grande escala. Áreas florestais podem converter-se em ecossistemas alterados, com enfraquecimento da capacidade de regulação climática global, alteração do clima regional e aceleração da perda de biodiversidade. Estas alterações ecológicas estão também a trazer impactos sociais como deslocações, impactos na saúde e erosão cultural. Sem ação imediata, os efeitos em cascata podem resultar em perdas irreversíveis para ecossistemas e comunidades. Recomenda-se, por isso, estratégias que integrem a compreensão dos limites ecológicos, vulnerabilidade social e adaptação climática. Podem ainda catalisar-se tipping points positivos, como a governança inclusiva e os investimentos financeiros direcionados para a conservação e restauro florestal.

A circulação do Oceano Atlântico é outro tipping point a causar preocupação. A Circulação Meridional de Reviravolta do Atlântico (AMOC) e o Giro Subpolar são dois tipping points cuja ultrapassagem pode desencadear invernos mais rigorosos, disrupção das monções e alterações nos ecossistemas marinhos. Por isso, a prevenção destes tipping points deve ser encarada como um objetivo primordial, o que obriga a esforços acelerados de mitigação climática.

Os glaciares também fazem parte do conjunto de preocupações dos cientistas.

o relatório defende a necessidade de desencadear “pontos de viragem positivos” – como a rápida adoção de tecnologias limpas e soluções baseadas na natureza. Estes processos já estão em curso em áreas como a energia solar e eólica, a adoção de veículos elétricos, o armazenamento em baterias e o uso de bombas de calor, especialmente em mercados-chave. Mudanças no consumo e na produção podem também desencadear pontos de viragem positivos em setores como o alimentar, contribuindo para travar a desflorestação e restaurar ecossistemas.

Em comunicado, Alice Fonseca, Climate & Policy Officer da WWF Portugal, afirma ser “necessária uma ação imediata e decisiva por parte dos líderes mundiais na COP30 - para proteger os direitos das pessoas em todo o mundo, já que as metas atuais e contributos de cada país não são suficientes. Mas também é preciso alavancar pontos de viragem positivos. Restaurar a natureza é uma das formas mais poderosas de o fazer, sendo essencial para criar resiliência, remover carbono da atmosfera e apoiar a subsistência das comunidades. Precisamos de acelerar esta e outras transformações com ações coordenadas entre governos, empresas e sociedade civil”.

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