Recicladores com dificuldade em escoar derivados de pneus
O 16º Encontro da Valorpneu, que desta feita teve lugar no início do mês, no Luso, serviu para os recicladores deixarem um alerta: o da dificuldade de escoamento do elevado stock de granulados e pós de borracha derivados de pneus usados, relacionado com o desajustamento entre a oferta e a procura destes materiais por, acusam os recicladores, falta de reconhecimento por parte do mercado da qualidade dos produtos oriundos de materiais reciclados.
António Pedreiro, da Recipneu, José Carvalho, da Biosafe e Pedro Barros, da Biogoma chamaram ainda a atenção para a importância do envolvimento das entidades em encontrar soluções integradas no âmbito de uma economia circular. A este propósito, Hélder Pedro, gerente da Valorpneu, assume que “o Fim do Estatuto do Resíduo pode ser um importante contributo para o reconhecimento dos produtos derivados dos materiais derivados de pneus usados”.
À Indústria e Ambiente, a diretora-geral da Valorpneu, Climénia Silva, justifica o desequilíbrio entre oferta e procura com a insuficiência de aplicações: "Não obstante a elevada qualidade dos materiais produzidos, os mercados geográficos fora da Europa representam atualmente 32% das vendas totais da produção nacional, mas serão apenas uma via transitória, enquanto estes destinos não se encontrarem devidamente estruturados relativamente ao tratamento dos pneus em fim de vida que geram, situação que quando ocorrer também inviabilizará a venda nesses países". A autossufiência nacional é pois, para a responsável, um caminho necessário. A aposta na inovação será o meio para alcançar este fim, com vista a melhorar as aplicações existentes e desenvolver novas. Além disso, a sensibilização também desempenha, para Climénia Silva, um papel importante, defendendo a responsável a adoção de medidas " que influenciem a alteração da perceção relativamente aos materiais reciclados e que reforcem a sua promoção".
Por seu turno, Rita Marques, da Associação Nacional dos Industriais de Recauchutagem de Pneus, destacou, pela negativa, a perda de 20 por cento neste mercado no último ano. A responsável mostrou-se, contudo, otimista com a proposta de integração de pneus recauchutados nas compras públicas ecológicas. “No âmbito da economia circular, a recauchutagem é fundamental, fechando o ciclo do pneu usado dando-lhe uma nova vida”, salientou.
Do lado institucional, Mercês Ferreira, vogal do Conselho Diretivo da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), destacou o “papel fulcral de todos os intervenientes neste sistema, desde o utilizador até ao distribuidor, permitindo uma atuação dos operadores segundo uma estratégia conjunta de trabalho em rede que tem dado bastantes frutos”. Esta responsável salientou também os impactos positivos quer ao nível económico, com um setor mais estruturado, quer a nível do meio ambiente e até da saúde pública e qualidade de vida das populações.
Coube a Ana Cristina Carrola, diretora do departamento de resíduos da APA, explicar o novo enquadramento legal, a evolução nos requisitos de qualificação dos operadores de tratamento e a nova abordagem nos novos modelos de licença, sintetizando o que mudou relativamente ao fluxo específico de pneus usados.
Já Climénia Silva enquadrou os desafios colocados ao longo do ano de 2018 no novo enquadramento legal, que consolida num único diploma o regime jurídico dos fluxos específicos de resíduos assentes no princípio da responsabilidade alargada do produtor, e da nova licença, estabelecendo novos objetivos para a gestão de pneus usados, nomeadamente a recolha de, pelo menos, 96 por cento dos pneus usados anualmente gerados, a valorização da totalidade dos pneus usados recolhidos e a preparação para reutilização e reciclagem de, pelo menos, 65 por cento dos pneus usados recolhidos.
[Notícia atualizada a 21-11-2018 às 17h37]
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