Os desafios da recuperação e resiliência nos transportes

As emissões de CO2 dos transportes em Portugal têm vindo a subir nos últimos anos, desenquadradas das emissões totais da economia – desde 2013 e até ao período pré-pandemia, as emissões dos transportes subiram cerca de 12%, ao passo que as emissões totais se mantêm idênticas (embora com oscilações pelo meio). No caso da União Europeia (UE), as emissões nos transportes estão mesmo em contra-ciclo com as emissões totais – as primeiras têm vindo a subir, e as segundas a descer. Por este motivo, o peso relativo dos transportes nas emissões totais tem subido fortemente, aproximando-se dos 30%, quer no caso português (28%), em que já é a maior fonte de emissões, quer no caso da UE (29,7%), em que é a segunda maior fonte de emissões, muito perto do sector da energia.

Se isto é verdade em relação ao CO2 , também o é em larga medida em relação aos poluentes atmosféricos com origem nos transportes, o que torna a situação mais preocupante. De facto, a poluição do ar, em grande parte provinda dos transportes, causa cerca de 400 mil mortes prematuras todos os anos na UE, das quais cerca de seis mil em Portugal, constituindo o maior factor de risco ambiental para a saúde humana. Devido à poluição, ficam todos os anos doentes 6,5 milhões de pessoas na UE, e perto de 100 mil em Portugal, com doenças respiratórias ou coronárias. Além disso, trata-se de um significativo encargo financeiro público e individual, pois só em Lisboa e no Porto os custos sociais da poluição ascendem a 852 milhões de euros por ano (cerca de mil euros por habitante por ano).

Dentro dos transportes, as emissões rodoviárias são, de longe, as mais importantes, responsáveis por mais de dois terços das emissões totais. E dentro das emissões rodoviárias, os automóveis ligeiros de passageiros representam mais de metade das emissões (cerca de 60%), seguidos do transporte pesado (cerca de 25%) e dos ligeiros de mercadorias (cerca de 12%). Ou seja, os automóveis representam cerca de 17% das emissões totais de CO2 na economia.

No caso de Portugal, para isto contribui o facto de o país ser o segundo da UE em que mais se anda de automóvel: cerca de 89% da quota modal do transporte de passageiros por via terrestre corresponde ao automóvel, e apenas cerca de 12% ao transporte público. Isto apesar de a mobilidade em Portugal (pouco mais de 10 mil km/ano/habitante) até estar abaixo da média da UE (quase 12 mil km/ano/ habitante). No caso da UE, o automóvel pesa 82% nas deslocações e, portanto, o panorama também não é famoso, mas melhor. (...)

Artigo completo na Indústria e Ambiente nº128 mai/jun 2021, dedicado ao tema 'Qualidade do Ar, pandemia e mobilidade'

Pedro Nunes

Analista em energia e clima na ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável

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