Poupar e reutilizar – as novas abordagens da utilização da Água

por Tereza Costa

«A água é essencial. A água é escassa. A água é preciosa. Por isso, tenho de vos dizer que, ao verbo de Paris, “adaptar”, neste caso, o da água, é necessário juntar o verbo “poupar”.»

Estas afirmações do Ministro do Ambiente e da Transição Energética, João Pedro Matos Fernandes, na abertura da Conferência realizada no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), por ocasião do Dia Mundial da Água, podem resumir o pensamento e as preocupações do setor em Portugal, e a nível mundial.

No caso do verbo “poupar”, João Matos Fernandes adiantou que, em relação a perdas, «estimamos atingirem 30% da água distribuída em Portugal. Por isso, temos em curso investimentos de cerca de 500 milhões de euros no Ciclo Urbano da Água, o jargão que usamos para nos referirmos ao processo de captação, de tratamento, de distribuição e de rejeição da água para consumo humano. Ao incentivarmos a agregação dos municípios no “retalho” (ou, como também dizemos, nos sistemas em “baixa”, que levam a água dos depósitos às nossas casas e empresas), estamos a incentivar um uso mais sustentável do recurso, conferindo a dimensão adequada aos sistemas e a competência necessária para os gerir. A este respeito, estou satisfeito – ao nosso desafio de agregação de sistemas em baixa responderam 55 municípios, um investimento de 207 milhões de euros que requer 157 milhões do Fundo de Coesão, bastante acima do teto de 100 milhões que estabelecemos».

O Ministro do Ambiente anunciou ainda que estão em curso os trabalhos para a criação do Regulamento Geral dos Sistemas Públicos e Prediais de Abastecimento de Água, de Águas Residuais e Pluviais, com o objetivo de simplificar e harmonizar conceitos. Segundo Matos Fernandes, «queremos integrar, pela primeira vez, o uso eficiente de água nestes sistemas, queremos definir os requisitos técnicos para o aproveitamento de águas pluviais e de reutilização de águas cinzentas em edifícios. Em breve, num evento em que contamos com o apoio da Ordem dos Engenheiros, apresentaremos a nossa proposta».

Seguindo o pensamento da “poupança”, entre os diversos oradores da Conferência “Água – novas abordagens”, organizada pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), o denominador comum das respetivas apresentações foi a abordagem da reutilização da água, o conceito “Fit-for-purpose” (a qualidade da água é adequada ao fim pretendido, sem que se coloque em causa a proteção da saúde e do ambiente) e, como destacou Orlando Borges, da ERSAR (Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos), «todos os projetos têm de ser pensados numa ótica de procura - para quem é a água, como deve existir uma flexibilidade no custo de utilização e reutilização da água.»

Segundo Felisbina Quadrado, da APA, «comparada a outras origens alternativas, como a dessalinização ou a transferência de água, ou a construção de novas barragens, a reutilização da água pode implicar menores custos de investimento e energia, podendo contribuir para reduzir as emissões de gases com efeito estufa, pode permitir viabilização e a expansão de alguns projetos fortemente dependentes de disponibilidades hídricas, minimizar os efeitos de secas e escassez, pode contribuir melhorar o estado do ambiente tanto quantitativamente, diminuindo os volumes de água captados, como qualitativamente, diminuindo a carga rejeitada, nomeadamente em zonas sensíveis».

Uma reutilização que passa pelo tratamento de águas residuais e passá-las a produto nas fábricas de água. Produto para rega de espaços verdes, rega agrícola, utilização industrial, utilização urbana, para climatização, ou seja, água reciclada não potável, em projetos que devem considerar demonstração de viabilidade (água/uso), assegurar a proteção da saúde e do ambiente e que, segundo Nuno Brôco, da Águas do Tejo Atlântico, «para se tornarem viáveis devem ser financiados no seu investimento».

Para a Região do Alentejo, região que apresenta tipicamente baixa precipitação e, simultaneamente, elevada intensidade de agricultura de regadio, acompanhada de uma evolução preocupante dos efeitos das alterações climáticas, foi apresentado o projeto para promoção da produção e utilização de água para reutilização (ApR) na atividade de regadio através do recurso a tecnologias de tratamento de reduzido custo operacional, instalação de um piloto de demonstração na interface das infraestruturas de tratamento de águas residuais urbanas com as infraestruturas de irrigação que permita esclarecer a dinâmica das barreiras criadas pela diluição e transporte da água até ao perímetro de rega, como promoção de uma campanha de comunicação e sensibilização para a necessidade de promoção de eficiência hídrica na atividade de regadio e demonstração de casos de sucesso na reutilização de água nesta atividade económica.

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