Gonçalo Ribeiro Telles, ou a defesa incansável da ecologia e humanização
“atualmente existe uma oportunidade para consciencializar a recuperação e regeneração urbana e integrar no planeamento da expansão urbana o problema das áreas complementares de agricultura”
Agricultura e expansão urbana
O investimento é um problema importantíssimo, mas há que pensar no que se investe – em loteamentos de elevado número de pisos, na periferia das cidades, que geram uma problemática muito grande para ser habitados?
Atualmente existe uma oportunidade para consciencializar a recuperação e regeneração urbana e integrar no planeamento da expansão urbana o problema das áreas complementares de agricultura, sem as quais os mercados e a qualidade do abastecimento em alimentos, das recentes populações urbanas, estarão comprometidos.
Boas propostas e má compreensão
Referências infelizmente não há. Existem é boas intenções na ruralização das respetivas cinturas – com benefício para utentes e clientes.
Existem boas propostas e por vezes boas previsões no planeamento, por exemplo quanto à circulação de brisas, com a grave incompreensão dos responsáveis pelo planeamento e pela gestão e das populações.
Gestão de corredores verdes: esforço autárquico esbarra em aprovações irresponsáveis
De um modo geral, as autarquias não estão sensibilizadas, nem os respetivos corpos técnicos de planeamento e gestão. Não é manutenção, é gestão, pois os corredores são corpos vivos.
É portanto de enaltecer o esforço de alguns autarcas, apesar do obscurantismo que encontram em várias situações e que muitas vezes resulta de concretizações condicionadas pelas aprovações irresponsáveis que as antecederam, ou da mediocridade de muitos planos.
Inconsciência, irresponsabilidade e ignorância
A inconsciência do uso e ocupação do solo vivo – riqueza indispensável a um desenvolvimento sustentável e de qualidade da sociedade humana.
A irresponsabilidade com que se considera o património natural e a sua expressão na paisagem global.
A ignorância com que se investe em muitas intervenções no planeamento e gestão das paisagens – ao nível das decisões e concretizações.
Prioridades
A definição como valores, do património natural e construído emanente da paisagem.
A pedagogia da paisagem global, como sustentáculo da sociedade.
Percurso de vida
Gonçalo Ribeiro Telles nasceu em Lisboa a 25 de maio de 1922 e faleceu, na cidade natal, a 11 de novembro de 2020. Era Arquiteto Paisagista e Engenheiro Agrónomo. Recebeu o Doutoramento honoris causa pela Universidade de Évora em 1994, universidade onde era Professor catedrático desde 1976, jubilado desde setembro de 1992. Orientou ainda a Secção de Arquitetura Paisagista do Instituto Superior de Agronomia, de 1972 a 1976.
Foi Subsecretário de Estado do Ambiente nos 1.º e 2.º Governos Provisórios e Secretário de Estado do Ambiente nos 3.º, 4.º e 6.º Governos Provisórios. Foi também Ministro de Estado e da Qualidade de Vida no 8.º Governo Constitucional. Exerceu o cargo de Deputado pelo Partido Popular Monárquico, eleito em lista da Aliança Democrática e Deputado Independente, eleito em lista do Partido Socialista.
Da sua passagem pelo Governo destaca-se a legislação sobre Defesa dos melhores solos agrícolas (1975); Defesa do coberto vegetal e do relevo natural (1975); Condicionamento da extração de inertes (1982); Reserva Agrícola Nacional (1983); Reserva Ecológica Nacional (1983) e Planos Regionais de Ordenamento do Território (1983).
Na Assembleia da República destacam-se as propostas para a Lei de Bases do Ambiente, Lei da Regionalização e Lei dos Baldios.
Foi vereador da Câmara Municipal de Lisboa, eleito na lista do Partido Popular Monárquico, tendo apresentado, entre outras, as propostas de criação do Parque Periférico e do Corredor Verde de ligação do Parque Eduardo VII ao Parque Florestal de Monsanto.
O “Prémio Valmor 1975” foi atribuído ao Parque da Fundação Calouste Gulbenkian, da sua autoria e do Arquiteto Paisagista António Viana Barreto.
É autor de diversos planos de ordenamento do território e da paisagem e de inúmeros projetos de espaços verdes públicos e privados.
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