O que acontece quando os glaciares escurecem?

FOTO SIMON / PIXABAY
Quando um glaciar está coberto de neve e a sua superfície é branca, a radiação solar é refletida. Mas a neve está a derreter e os glaciares a escurecer, o que potencia o aumento da absorção da luz e, consequentemente, o recuo mais acelerado
Um projeto de investigação liderado pela glaciologista Lea Hartl está a combinar medições retiradas da superfície de glaciares com dados de imagens de satélite para perceber melhor por que razões e de que forma estão a desaparecer.
Já existem previsões que apontam para o desaparecimento dos glaciares mais pequenos dos Alpes Orientais em poucos anos. E mesmo que se consiga limitar o aumento da temperatura a 1,5 ºC, apenas uma pequena parte dos glaciares sobreviverá até ao fim do século.
A radiação solar que atinge a superfície dos glaciares fornece energia que faz com que o gelo derreta. “Para perceber de forma mais precisa como os glaciares vão evoluir, é importante perceber melhor o albedo [unidade de medida que descreve a quantidade de radiação refletida pela superfície do glaciar]”, explica Lea Hartl, citada pela revista Scilog.
“Se um glaciar está coberto de neve, e, portanto, é branco, a sua superfície reflete energia solar. Quanto mais escurece, maior é a proporção de luz absorvida, o que promove o derretimento do glaciar”, explica a cientista da Academia Austríaca de Ciências. Ou seja, quando essa camada protetora de neve desaparece, o recuo do glaciar acelera. No projeto “Glacier Albedo: In-Situ Processes and Remote Sensing”, Hartl está a investigar de que forma a refletividade e o futuro dos glaciares podem ser previstos de forma melhor.
Vários fatores, que podem ocorrer simultaneamente, influenciam o quanto um glaciar escurece e, consequentemente, quão acelerado é o seu recuo. A água em estado líquido que se acumula na superfície do glaciar durante anos de derretimento intenso escurece partes da sua superfície e acelera esse mesmo derretimento. As partículas responsáveis por esse escurecimento podem ser orgânicas, como pólen e algas, ou inorgânicas, como resíduo proveniente das rochas. Há também que ter em conta partículas que percorrem grandes distâncias, como as poeiras do Sahara, e que ao depositar-se na superfície do glaciar também o escurecem.
Agora, Lea Hartl terá acesso aos dados de uma estação de medição operada pela Academia Austríaca de Ciências que incluirá uma estação meteorológica a recolher dados no glaciar Gepatschferner, no Tirol. A recolha prolongada destes dados permitirá a glaciologista perceber as mudanças na refletividade da superfície do gelo. Depois, a ideia é perceber como isto afeta o derretimento do glaciar. Outro objetivo do projeto é perceber como incorporar conhecimento recolhido localmente em modelos glaciares existentes e criar uma ligação melhor entre medições locais e modelos globais”, explica.
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