Fogos florestais e disparates

  • 12 janeiro 2017, quinta-feira
  • Gestão

Leia a reflexão de João M. A. Soares, delegado da Portucel-Soporcel no WBCSD, sobre Fogos Florestais

Mais de noventa (90) por cento da floresta portuguesa é detida por privados.

A grande maioria da área ardida corresponde à floresta de produção de madeira e fibra (pinho e eucalipto) onde predomina esmagadoramente o nanofúndio (é comum encontrar proprietários com um ou dois hectares divididos em mais de uma dezena de parcelas!).

Ora nesse tipo de território não é possível fazer uma boa gestão florestal (económica e/ou ambientalmente falando).

Acresce que só se protege o que pensamos ter valor.

(A gasolina é altamente combustível e nem por isso arde todos os anos descontroladamente).

A conclusão óbvia, é a necessidade de agir no sentido de aumentar a escala da Unidade de Gestão Florestal. Aí a floresta terá condições para ser bem gerida e, naturalmente, para ser defendida.

Isto é possível – sem margem para dúvidas – mas implica decisões políticas corajosas, de longo prazo, e “desbombeirizar” a floresta portuguesa que, depois da Reforma de 2003/2004, regressou, “lenta mas seguramente”, a ponto de já se ver gente “responsável” a dizer que os bombeiros podiam/deviam encarregar-se da prevenção dos fogos no Inverno !!!!!!! (já só nos falta mais isso).

É preciso que fique claro para a Opinião Pública que os fogos florestais (e não é decente, como agora se faz, por conveniência dos “grandes números”, meter no mesmo saco os fogos nos povoamentos florestais, com os fogos nos matos e nas serras carecas – que são mais de dois terço do total - onde vemos – nas televisões - aviões a despejar água e o nosso dinheiro) não são um problema de Protecção Civil e não se resolvem pela via (importante e indispensável) do combate.

E depois…é preciso ter bom senso: Como se podem gastar milhões no combate e mandar bombeiros para eucaliptais…se o governo decidiu no seu Programa do Governo (por inteligente proposta de Os Verdes) que é preciso acabar com eles e inviabilizar a competitividade e futuro do maior sector exportador nacional, em termos de Valor Acrescentado Nacional?

E quanto a bom senso: vemos spots nas televisões (que fazem “directos” com os fogos e não com as suas causas e consequências) mostrando a tragédia dos fogos e o desespero das populações…e que terminam com o pedido de dinheiro para a conta bancária da… Liga dos Bombeiros Portugueses (!) e não para as vítimas que os fogos deixam no Mundo Rural!

Percebe o Leitor a minha irritação com a forma como este tema tem sido abordado pelo Poder Político, pelos media e pelos “comentadores/especialistas/tudólogos”, quando as vozes corajosas dos verdadeiros especialistas (que os há entre nós e eu não sou um deles) não tem sido, não são, pura e simplesmente consideradas.

A questão do combate aos fogos pela Força Aérea e pelo Exército (que merece reflexão mas está longe de ser pacífica) é outro e bem actual tema de desinformação e uma “nova” (velha) forma de evitar o essencial.

Termino por convidar a Revista e/ou os seus Leitores a lerem devagar (e meditarem) sobre o conteúdo do Manifesto “Pela Floresta Contra a Crise” e do Manifesto “Outras Vez os Fogos” (facilmente disponível na net) onde tudo está escrito e assinado por quem não quis /não quer, títulos, sinecuras, dinheiro ou Grupos de Trabalho. 

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