Entrevista a Jorge Sousa

Num momento geopolítico particularmente sensível, o presidente da Associação Portuguesa de Economia de Energia fala-nos não só das vias para a descarbonização da indústria eletrointensiva mas também da importância da diversificação das fontes. O recurso ao autoconsumo, e a possibilidade de realizar trocas de energia no modelo das Comunidades de Energia Renovável, também surgem como hipóteses promissoras.

Entrevista por Cátia Vilaça | Fotografia D.R.

Relativamente à indústria, e particularmente aos grandes consumidores de energia, podemos encarar a descarbonização como uma meta palpável ou se há setores que vão sempre depender da energia fóssil para manter a sua competitividade?

No ponto da descarbonização, há duas vias possíveis. Uma delas é a via da eletrificação. Eletrificando o consumo e garantindo que toda a produção elétrica está descarbonizada, estamos a descarbonizar o consumo. Ao garantir que toda a produção de energia elétrica vem de fontes renováveis e não emissoras, todo o consumo elétrico é intrinsecamente descarbonizado.

A produção de eletricidade por via renovável tem uma linha mais clássica, da hídrica, e, mais recentemente, da eólica e fotovoltaica, e também biomassa, geotérmica e energia das ondas, que tem o seu papel nalgumas geografias. A geotérmica pode agora assumir um papel relevante, por via de uma abordagem recente nos Estados Unidos que liga a energia geotérmica com a própria exploração de lítio, um dois em um muito promissor.

A outra via, para os processos que não são facilmente eletrificáveis, como é o caso da indústria que necessita de altas temperaturas (e as altas temperaturas têm de ser obtidas muitas vezes pela combustão), é a dos gases renováveis. Em vez de estarmos a usar o gás natural, o fuelóleo ou outros combustíveis fósseis, vamos usar um combustível sintético, produzido com base em energias renováveis. Aí aparece-nos como exemplo o hidrogénio verde, que é uma produção de hidrogénio obtida por eletrólise da água, sendo garantido que a eletricidade utilizada para a eletrólise é renovável, contrariamente ao hidrogénio cinzento, que se obtém a partir de fontes fósseis.

A indústria terá, por uma forma ou por outra, de conseguir a tal descarbonização.

Neste momento, o grau de maturidade da tecnologia de obtenção de hidrogénio a partir da eletrólise da água permite-nos ter confiança na sua estabilidade e segurança?

Aqui vale a pena falar em dois pontos: a tecnologia em si é mais do que conhecida. Há mais de 100 anos, o hidrogénio era obtido por via eletrolítica. Portanto, é um processo totalmente dominado. Depois, com a evolução da exploração do gás e pelos preços muito competitivos que o gás natural assumiu, tornou-se mais interessante, economicamente, obter hidrogénio a partir do gás. O processo consiste na extração da molécula de hidrogénio do metano, que é competitivo. (...)

Leia a entrevista completa na Indústria e Ambiente nº133 mar/abr 2022, dedicada ao tema 'Energia:Novos recursos para a Indústria'

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