Entrevista a António Eusébio

  • 28 fevereiro 2023, terça-feira
  • Água

A seca estrutural que afeta uma parte do país sente-se com particular impacto no Algarve, o que tem obrigado a região a estar vários passos à frente na procura de alternativas ao abastecimento tradicional. A par da central de dessalinização, em fase adiantada de planeamento, há diversos investimentos em curso para melhorar o abastecimento das zonas mais vulneráveis, e a reutilização começa a assumir um papel preponderante na rega de campos de golfe, podendo o seu uso ser alargado.

Entrevista por Cátia Vilaça | Fotografia: D. R.

Sabemos que o Algarve é uma das regiões mais afetadas pela seca. Concretamente, de que modo esta situação tem impactado a região do Algarve e a operação da Águas do Algarve?

Nas últimas décadas, o regime de pluviosidade tem vindo a diminuir e a ser cada vez mais torrencial e mais afastado no tempo entre si. Isto faz com que a infiltração nos solos seja mais difícil e, consequentemente, que as os níveis subterrâneos vão diminuindo ao longo dos anos. Por outro lado, os consumos que se têm notado no Algarve estabilizaram perto dos 70 milhões [de metros cúbicos], mas há outros setores onde se nota que têm vindo a aumentar, nomeadamente o setor agrícola. Associado a estes dois fatores, a diminuição das chuvas faz com que tenhamos mais dificuldades em garantir o abastecimento com a quantidade de que necessitamos.

Enquanto há 20 anos teríamos, em cada cinco anos, dois anos húmidos, dois médios e um seco, este regime tem vindo progressivamente a alterar-se e passamos a ter, em cada 10 anos, um ano húmido, quatro médios e seis secos. Por outro lado, embora o território seja pequeno, notamos uma diferença entre o Barlavento e o Sotavento. O Barlavento era uma zona onde chovia mais, mas nos últimos seis anos, na ponta do Barlavento, quase não tem chovido. A barragem da Bravura encontra-se, neste momento, a cerca de 15 %, com pouco mais de um milhão e meio de metros cúbicos. Estamos ainda a meio do período húmido, mas é uma situação muito preocupante. Durante este ano, só entraram na Barragem de Odelouca pouco mais de 10 milhões de metros cúbicos, enquanto no Sotavento, no sistema de Odeleite - Beliche, entraram mais de 55 milhões. Isto faz com que este ano estejamos mais à vontade no Sotavento, mas ainda vamos precisar de muito mais água na zona do Barlavento. É neste contexto adverso que a região do Algarve se encontra.

A contribuição das alterações climáticas cria-nos maiores dificuldades, e a gestão dos consumos também tem de ser olhada de outro prisma, com uma eficiência diferente, com um plano integrado de atuação, um pacto que é preciso ter para a água. 

Para além do fenómeno das alterações climáticas, o Algarve sofre também uma pressão turística, pelo menos sazonal, muito grande e que coloca uma pressão adicional sobre os serviços. De que forma esta situação tem sido mitigada?

O turismo está diretamente ligado ao consumo humano. O abastecimento de toda a hotelaria é feito em conjunto com o abastecimento que nós colocamos na rede em alta, que segue para a rede em baixa dos municípios e através da qual os municípios abastecem todo o turismo, à exceção da rega de campos de golfe. Aqui, em alguns casos é usada água bruta ou água subterrânea, e, portanto, temos de fazer essa diferenciação das soluções.

O consumo humano tem, efetivamente, estabilizado perto dos 70 milhões de metros cúbicos por ano. Na última década, os consumos variaram entre 68 e 75 milhões, em mínimo e máximo. Não tem havido uma grande diferença. Penso que isso se deve muito ao trabalho que tem vindo a ser feito por algumas empresas municipais e alguns municípios no combate às perdas, sabendo que há muito trabalho ainda por fazer. (...)

Leia a entrevista completa na Indústria e Ambiente nº138 jan/fev 2023, dedicada ao tema 'Água: “novas” fontes'

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