Dia Mundial do Ambiente: um lembrete para a crise planetária e cumprimento de compromissos

Fotografia: Freepik

António Guterres apela para restauro de ecossistema

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, instou hoje os países a cumprirem compromissos de recuperação de ecossistemas e terrenos degradados, e a agirem para travar e inverter a desflorestação até 2030.

“Temos de aumentar drasticamente o financiamento para apoiar os países em desenvolvimento a adaptarem-se às condições climáticas violentas, protegerem a natureza e apoiarem o desenvolvimento sustentável”, disse António Guterres numa mensagem sobre o Dia Mundial do Ambiente, que se assinala a 5 de junho.

Este ano, com o tema “Restauração dos solos, desertificação e resistência à seca”, e com a palavra de ordem “Nossa Terra Nosso Futuro”, a comemoração oficial do Dia Mundial do Ambiente é organizada pela Arábia Saudita, país que também acolhe a próxima conferência das Nações Unidas sobre a biodiversidade (COP16).

Na mensagem, António Guterres começa por dizer que a humanidade depende dos solos, mas, no entanto, em todo o mundo “um cocktail tóxico de poluição, caos climático e dizimação da biodiversidade está a transformar terras saudáveis em desertos e ecossistemas prósperos em zonas mortas”.

Com as colheitas a falhar, as fontes de água a desaparecerem, as economias enfraquecidas e comunidades em perigo, a população do planeta está presa “num ciclo mortal” e é hora de se libertar, avisou António Guterres.

Afirmando que a “inação é demasiado dispendiosa” e que cada dólar investido na recuperação de ecossistemas gera até trinta dólares em benefícios económicos, António Guterres concluiu: “Nós somos a ‘geração restauração’. Juntos, vamos construir um futuro sustentável para a terra e para a humanidade”.

Dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) indicam que 40 por cento das terras do mundo já estão degradadas, que 3,2 mil milhões de pessoas sofrem com a desertificação e que três quartos da população devem ser afetados por secas até 2050.

Segundo o PNUMA, a restauração dessas terras aumenta o armazenamento de carbono e retarda as alterações climáticas. Restaurar apenas 15 por cento poderia evitar, estimou, até 60 por cento das extinções de espécies ameaçadas.

No último relatório do PNUMA sobre o ambiente, divulgado em fevereiro, a diretora executiva da instituição, Inger Andersen, admitia que estavam a ser feitos progressos, mas que a grande tarefa mundial é a de acelerar esses progressos na luta contra a tripla crise planetária – alterações climáticas, perda de biodiversidade, e poluição e resíduos.

Criado pela Assembleia Geral das Nações Unidas para assinalar a Conferência de Estocolmo de 1972, cujo tema central foi o ambiente, o Dia Mundial do Ambiente alerta para a forma como todos podem ajudar a acabar com a degradação dos solos e a recuperar as paisagens degradadas.

Tal pode ser feito, segundo as Nações Unidas, tornando a agricultura sustentável e regenerativa, redirecionando, por exemplo, subsídios agrícolas para práticas sustentáveis e preservando ecossistemas.

Salvar o solo, a origem de 95 por cento dos alimentos, é outra solução, que passa por apoios a uma agricultura biológica. E outra é proteger os polinizadores, porque três em cada quatro culturas que produzem frutos e sementes dependem deles. Reduzir a poluição atmosférica e minimizar impacto de pesticidas e fertilizantes é fundamental.

Nas sugestões da ONU está também a restauração dos ecossistemas de água doce, a renovação das zonas costeiras e marinhas e levar a natureza de volta às cidades, que consomem 75 por cento dos recursos do planeta, produzem mais de metade dos resíduos globais e geram 60por cento dos gases com efeito de estufa.

A ONU considera o dia 5 de junho o dia mais importante para o meio ambiente, com milhões de pessoas envolvidas para aumentar a consciencialização ambiental.

Uma das mensagens do PNUMA é a de que “não somos apenas os Boomers, a Geração X, os Millennials, a Geração Z ou a Geração Alfa, somos a Geração Restauração. Não podemos voltar no tempo, mas podemos cultivar florestas, recolher água da chuva, adotar dietas que respeitem o solo e combater as alterações climáticas. Somos a geração que pode fazer as pazes com a terra”.

Quercus alerta para cinco ameaças ao ambiente

A queima de biomassa, o “avanço desregrado” das centrais fotovoltaicas, a mineração, a seca e o uso de pesticidas são as cinco maiores ameaças ao ambiente em Portugal, alertou a associação ambientalista Quercus a propósito do Dia Mundial do Ambiente.

A Quercus considera inquestionável a evolução em matéria de ambiente nas últimas décadas, mas acrescenta que surgiram estratégias para deturpar a lei e lesar o direito a um ambiente equilibrado e sadio.

Quer a nível nacional, quer europeu ou internacional, avisou a associação, está a ser colocada maior pressão sobre os recursos naturais, que condiciona a resiliência do país e do planeta.

A Quercus insurge-se por exemplo contra a queima de biomassa para a produção de energia elétrica, porque coloca pressão sobre os recursos florestais e não diminui incêndios, defendendo a produção de energia descentralizada e autoconsumo para evitar grandes centrais, e a instalação de painéis em áreas florestais e naturais.

A alteração do bosque nativo por monoculturas florestais, associada às más práticas florestais e agrícolas, têm contribuído para desregular o ciclo da água e acelerar a degradação e desertificação dos solos, disse a associação em comunicado, acrescentando que atualmente em Portugal cerca de 63 por cento do solo está em vias de desertificação, e o teor de matéria orgânica na maior parte do solo é de apenas um por cento, sendo necessário pelo menos três por cento para a maioria das culturas agrícolas.

No comunicado, a Quercus refere que há agora uma oportunidade para uma transição agroecológica e reconversão das monoculturas de espécies florestais, fala dos agricultores que estão a “abrir horizontes” em relação a novas práticas agroecológicas e considera que é preciso rever os critérios das Faixas de Gestão de Combustível.

A associação pede medidas legislativas para a efetiva proteção dos carvalhais, tipo de bosque que dominava o coberto vegetal do país, nomeadamente para a promoção da bolota, como por exemplo a redução do IVA dos produtos à base de bolota, dos atuais 23 por cento, para os seis por cento.

Além de sugerir a proibição do uso de pesticidas em espaços públicos, a Quercus pede também prioridade à ligação ferroviária a Madrid e que se reveja a construção de um novo aeroporto.

São propostas para celebrar o Dia Mundial do Ambiente, diz a Quercus, considerando que “até agora, pelos sinais do clima, podemos indicar um balanço geral negativo”.

Zero assinala Dia Mundial do Ambiente com carta a ministros

Para assinalar o Dia Mundial do Ambiente, a associação ambientalista Zero enviou aos ministros do Ambiente e da Agricultura uma carta a pedir maior sustentabilidade e eficiência no uso dos recursos.

A carta, em forma de receita culinária, insta os ministros a “cozinhar” soluções que não coloquem em causa o futuro do país, destacando especialmente a gestão e a falta de água.

Para restaurar a terra é preciso, salientou a associação, parar com as lavouras dos campos, plantar árvores, instalar cultivos diversificados, acompanhados de boas práticas agrícolas. Tudo ao mesmo tempo que se previnem emissões poluentes e se gerem com cuidado águas superficiais e subterrâneas.

Na “receita” enviada aos ministros Maria da Graça Carvalho, Ambiente e Energia, e José Manuel Fernandes, Agricultura e Pescas, a Zero pede “sensatez na ambição do Programa Nacional de Regadios”, deixando “a marinar” transvases e barragens, que são “uma falsa solução climática”.

A Zero acrescentou que se os biorresíduos (40 por cento do total de resíduos produzidos) forem tratados, evitam-se emissões de metano e produzem-se milhões de euros em matéria orgânica e nutrientes para a agricultura.

“Ao preparado anterior, junta-se um punhado de coragem para investir na redução de perdas de água na agricultura que representam 35 por cento das utilizações, na monitorização do seu uso, na penalização do desperdício por via da Taxa de Recursos Hídricos e na revisão do tarifário associado à agricultura”, lê-se ainda no comunicado.

A Zero fez ainda a apologia dos alimentos provenientes de circuitos curtos agroalimentares, pede mais uso da água reutilizada, “cuja utilização se encontra muito aquém do desejável”, especialmente na agricultura, e quer também a revisão do Programa Nacional de Ação de Combate à Desertificação.

Outro pedido é ainda a implementação do Plano Nacional de Restauro da Natureza, com mais ações de restauro de espécies e habitats, com a Zero a alertar também para a necessidade de melhorar a proteção de aves estepárias como o sisão, a abetarda e o tartaranhão-caçador.

Águas do Tejo Atlântico organiza iniciativas para assinalar a ocasião

Entre os dias 3 e 7 de junho, a Águas do Tejo Atlântico estará nos municípios de Lisboa, Loures, Odivelas e Sintra, com oficinas pedagógicas, workshops e jogos didáticos:

Lisboa – dia 5 de junho – Oficina Pedagógica BioBombas+ no Instituto Pupilos do Exército

Loures – dia 5 de junho – entrega de prémios às escolas vencedoras dos Concursos Municipais de Educação Ambiental, nomeadamente o Programa o Círculo Mágico

Odivelas – dia 3 a 7 de junho - atividades ambientais para a população escolar do concelho

Sintra – dia 5 a 7 de junho - Feira do Ambiente e Sustentabilidade “SintrAmbiente’24” para a população escolar do concelho.

Conferência sobre cidades sustentáveis na Amadora

A Conferência “Estamos a Construir Cidades Sustentáveis?”, organizada pela Câmara Municipal da Amadora e a Associação ZERO, vai contar com a participação da Águas do Tejo Atlântico na mesa-redonda sobre “O desafio atual da gestão de resíduos e circularidade” e será representada por Elisabete Vale, coordenadora do Departamento de Segurança e Sustentabilidade Empresarial da Águas do Tejo Atlântico, que irá apresentar o tema “Circularidade de fardamento e de máscaras”.

Na conferência serão abordadas diversas matérias, nomeadamente a ação climática e comunidades vulneráveis, o impacto da nossa alimentação no ambiente, o desafio atual da gestão de resíduos e circularidade, e as cidades inclusivas: agir localmente para mudar globalmente, e a pobreza energética.

A conferência vai decorrer no auditório dos Recreios da Amadora, a partir das 9h30 até às 17h45.

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