Dia da Biodiversidade: propostas para melhorar natureza

A criação de equipas para detetar e agir precocemente contra espécies invasoras e a realização de cimeiras ibéricas ambientais são algumas das propostas saídas da iniciativa “Missão Natureza 22”, do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

As ações, consideradas fundamentais, são apresentadas a 22 de maio, Dia Internacional da Biodiversidade, numa cerimónia no Palácio de Queluz, um ano depois da apresentação da iniciativa pelo ICNF.

A “Missão Natureza 22” tem como objetivo melhorar o estado de conservação dos valores naturais de Portugal e orientar o investimento em biodiversidade, até 2027.

Ao longo de um ano fizeram-se sessões em todo o país para ouvir entidades como administração local, instituições de investigação científica e tecnológica ou organizações não-governamentais de ambiente.

Foram colocados sete objetivos a debate, nomeadamente aumentar a apropriação pública do património natural, melhorar o estado de conservação do património, controlar espécies exóticas invasoras ou inovar no investimento em biodiversidade, e os resultados são apresentados pela Universidade Nova, uma das entidades envolvidas nas sessões.

Foram identificadas 73 ações e, segundo os resultados, aos quais a agência Lusa teve acesso, foram consideradas prioritárias questões como a formação e creditação de Guias da Natureza, ter escolas com embaixadores pela natureza, atualizar a marca “Natural.pt”, ou criar protocolos de monitorização do estatuto das espécies e políticas de conservação.

Também a realização de ações de restauro ecológico, a promoção das espécies autóctones como forma de controlar as espécies invasoras, o financiamento/majoração para quem exerce uma atividade que promove os serviços de ecossistemas e a criação de um mercado autorregulado de pagamento de serviços de ecossistema foram considerados passos importantes.

Entre outras ações é ainda proposta a realização de uma cimeira ibérica para a conservação da natureza e biodiversidade, e na área da inovação do investimento em biodiversidade o desenvolvimento de um mecanismo plurianual de financiamento por parte do Fundo Ambiental.

Os resultados do ano de trabalho e as conclusões são apresentados numa sessão que é aberta pelo ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, mas ao longo do dia haverá também diversos especialistas, oradores em painéis, com a iniciativa a ser encerrada pelo secretário de Estado da Conservação da Natureza e das Florestas, João Paulo Catarino.

No âmbito do Dia Mundial da Biodiversidade, uma data proclamada pela ONU em 2000, realiza-se também a 22 de maio um seminário sobre o tema “Escola, um ecossistema de cidadania”, organizado pela Associação de Educação Ambiental.

Este ano sobre o tema “Do acordo à ação: reconstruir a biodiversidade”, numa alusão à última conferência da ONU sobre biodiversidade (no Canadá) que estabeleceu metas para reverter a perda de natureza até 2050, o dia destina-se a sensibilizar e promover o desenvolvimento sustentável e a recuperação dos ecossistemas naturais.

Esta é a Década das Nações Unidas para a Restauração dos Ecossistemas.

Zero lança cinco desafios para Portugal ser um exemplo nas políticas ambientais

A associação ambientalista Zero quer que Portugal seja exemplar no cumprimento das políticas europeias e nacionais e deixa cinco desafios, desde a compra de terrenos públicos para conservação da natureza a uma cooperativa para a conservação do meio marinho.

Num comunicado para assinalar o Dia Internacional da Biodiversidade, a Zero apresenta cinco desafios, “complexos mas atingíveis”, para acelerar a preservação da biodiversidade e dos ecossistemas em Portugal.

O primeiro é a aprovação do Cadastro Nacional dos Valores Naturais Classificados e a implementação dos planos de ação para espécies ameaçadas.

O cadastro, recorda, está previsto no Regime Jurídico da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, mas aguarda regulamentação há 13 anos. Irá permitir “conferir proteção legal a todas as espécies com estatuto de ameaça que ocorrem no interior e fora das áreas classificadas, uma vez que estão previstas contraordenações ambientais puníveis por lei”.

Como segundo desafio, a Zero propõe a definição e a aplicação de uma estratégia de renaturalização de vastas áreas do território nacional, sendo esta já “uma realidade por toda a Europa” como forma de conservação da natureza e gestão da paisagem.

Para tal, destaca, é necessário que os decisores políticos deixem de encarar o território sobretudo como espaços de extração de recursos naturais e de produção de energia.

É uma “abordagem eficaz na recuperação de sistemas complexos, para além de ser menos onerosa e de garantir melhores resultados para a conservação da biodiversidade no longo prazo, num contexto de grande exigência na União Europeia”, lê-se no comunicado.

Em terceiro lugar, a Zero sugere um plano para a aquisição de terrenos públicos para a conservação da natureza, que seria concretizado através do Fundo Ambiental. Este mecanismo teria anualmente uma verba específica para que o Estado comprasse terrenos de interesse para a conservação, de modo a que “ano após ano aumente a área pública destinada à preservação de espécies ameaçadas”.

A Zero queixa-se do facto de só “uma parte ínfima da propriedade” pertencer ao Estado, “mantendo-se a mesma na quase totalidade em mãos privadas”, o que “limita muito a intervenção e definição de ações visando a conservação de espécies ameaçadas”.

Como quarto desafio, é pedida a atribuição de meios financeiros nacionais e comunitários com prioridades bem definidas, tendo em conta que “nunca a política pública possuiu tantos recursos financeiros disponíveis para a conservação da natureza”.

Ao nível de verbas provenientes da União Europeia que serão geridas a nível regional, preveem-se investimentos de 206 milhões do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, o que “corresponde a 2,6 por cento do total dos fundos comunitários com aplicação à escala regional”.

“No entanto, para a Zero são muitas as preocupações relativas à forma como irão ser gastos estes preciosos recursos, uma vez que são muito vagas as orientações existentes para a alocação das verbas”, diz a associação, defendendo, por isso, uma consulta pública sobre a matéria.

Por último, a associação defende a criação de uma cooperativa de interesse público para dinamizar a conservação do meio marinho, tendo em conta que a preservação de 30 por cento da área marinha, estipulada pela Estratégia da União Europeia (UE) para a Biodiversidade 2030, é a tarefa com “maior grau de dificuldade”.

A ideia é “criar um organismo que agregue entidades públicas e privadas interessadas, com objetivos de estudo, gestão e vigilância de uma rede de áreas marinhas classificadas, na forma de cooperativa de interesse público”.

Os cinco desafios são apresentados hoje porque, explica a associação, é só nestes dias que a preservação da biodiversidade e dos ecossistemas “merece atenção por parte dos decisores políticos”.

A Zero defende que “Portugal deveria tornar-se um exemplo ao cumprir as políticas europeias e nacionais já definidas nesta matéria”, desde a Estratégia da UE para a Biodiversidade 2030 à Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e da Biodiversidade, e alocar a estas medidas os meios e recursos necessários. “Infelizmente não é o que está a acontecer”, conclui.

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