O Covid-19 e a possibilidade de um novo rumo para resolver a crise climática

O aparecimento da pandemia do Covid-19 insere-se numa tendência de aumento do número de zoonoses que estão a aparecer no mundo, especialmente na Ásia e África. A análise de uma base de dados de 335 doenças infecciosas emergentes surgidas no período 1940-2004 revelou que 60,3% são zoonoses e, nestas, 71,8% tiveram origem em animais selvagens e mostram tendência de crescimento (Jones, 2018). A caracterização do genoma do vírus responsável pela Covid-19, SARS-CoV-2, foi publicada na revista Nature em 3 de fevereiro deste ano (Zhou, 2020), tendo-se verificado que é 79,6% idêntico ao do SARS-CoV, que causou uma epidemia de gripe em Hong-Kong, no ano de 2003, e 96% idêntico ao de um coronavírus encontrado em morcegos Rhinolophus affinis da província de Yunnan, na China.

É muito provável que o SARS-CoV tenha passado de morcegos pertencentes ao mesmo género para civetas do Himalaia ou outros mamíferos vendidos para alimentação humana nos mercados de animais selvagens do Sul da China. A evolução do SARS-CoV-2 desde os morcegos até ao homem é, por enquanto, menos conhecida. A invasão, destruição ou degradação de habitats e a ingestão indiscriminada de mamíferos selvagens estabelece novas formas de contacto com as pessoas que potenciam a oportunidade de os seus vírus se adaptarem e penetrarem no corpo humano causando novas doenças. Sem retroceder caminho e procurar travar a destruição e degradação sistemática da biosfera, é provável que novas epidemias e pandemias causadas por zoonoses continuem a surgir.

De acordo com a previsão de 25 de maio da Agência de notação Fitch, o PIB mundial em 2020 irá decrescer de 4,6%, o da UE de 8.2%, o dos EUA de 5,6% e o da China crescer de 0,7%. O FMI prevê para Portugal uma redução do PIB de 8% em 2020. A desaceleração da economia mundial, e especialmente a forte quebra de mobilidade, vai diminuir o consumo de energia e o volume das emissões de CO2 para a atmosfera, dado que cerca de 80% das fontes primárias globais de energia são combustíveis fósseis.

De acordo com as últimas previsões da Agência Internacional de Energia (IEA, 2020), as emissões em 2020 irão diminuir de 8% relativamente a 2019, o que corresponde a uma redução de 2,6 milhares de milhões de toneladas de CO2. Esta redução é a maior de todas as que foram provocadas pelas várias crises durante os séculos 20 e 21. (...)

Artigo completo da Indústria e Ambiente nº122 mai/jun 2020

Filipe Duarte Santos

Autor da coluna Alterações Climáticas / Presidente do CNADS

Se quiser colocar alguma questão, envie-me um email para info@industriaeambiente.pt

Newsletter Indústria e Ambiente

Receba quinzenalmente, de forma gratuita, todas as novidades e eventos sobre Engenharia e Gestão do Ambiente.


Ao subscrever a newsletter noticiosa, está também a aceitar receber um máximo de 6 newsletters publicitárias por ano. Esta é a forma de financiarmos este serviço.