Alterações climáticas agravaram seca extrema no Corno de África

As mudanças climáticas, provocadas pela ação humana, não só tornaram muito mais provável como agravaram a atual seca extrema que afeta o Corno de África, concluiu uma equipa internacional de cientistas do clima.

“As mudanças climáticas causadas por atividades humanas tornaram a seca agrícola no Corno da África cerca de cem vezes mais provável” do que antes, refere um relatório divulgado pelo World Weather Attribution.

Esta rede global de cientistas procura determinar rapidamente se certos eventos climáticos extremos foram influenciados pelas alterações climáticas.

“As mudanças climáticas causaram a baixa precipitação na região”, disse à agência de notícias Associated Press (AP) a principal meteorologista do Departamento de Meteorologia do Quénia, Joyce Kimutai. “As mudanças climáticas tornaram a seca de nível excecional,” acrescentou.

Joyce Kimutai foi uma de 19 cientistas de sete países que avaliaram como as alterações climáticas afetaram as chuvas no Corno de África, levando à pior seca em 40 anos.

Os cientistas analisaram dados climáticos históricos, incluindo mudanças nos dois principais padrões de chuva na região, juntamente com simulações de modelos de computador que datam de 1800.

A conclusão foi que a longa temporada de chuvas, de março a maio, está a ficar mais seca e a curta temporada de chuvas, normalmente de outubro a dezembro, a ficar mais húmida, devido às alterações climáticas.

O especialista do Imperial College London, no Reino Unido, e líder do estudo, Friederike Otto, disse à AP que o relatório sublinha como os efeitos das mudanças climáticas “dependem fortemente de quão vulnerável” é a população local.

Os cientistas reconheceram que fracas estações chuvosas no passado, elevadas temperaturas, conflitos, a fragilidade dos estados e a pobreza são também responsáveis pelos “impactos devastadores” da atual seca no Corno de África.

As Nações Unidas disseram que mais de 20 milhões de pessoas no Quénia, Etiópia, Somália, Uganda e Sudão do Sul foram afetadas pela seca, com mais de 2,2 milhões de deslocados na Somália e na Etiópia e graves riscos para centenas de milhares de grávidas ou lactantes.

O chefe de assistência e assuntos humanitários da organização não-governamental Food for the Hungry, Rod Beadle, disse à AP que quase 15 milhões de crianças estão expostas à desnutrição aguda.

“Apesar das recentes chuvas no norte do Quénia, a pressão das anteriores temporadas perdidas cria uma situação terrível. A inundação afetou o gado e muitos pastores perderam os seus principais meios de subsistência”, sublinhou.

“As condições de seca resultaram em solos severamente compactados, que não conseguem absorver a água; portanto, as inundações são mais severas. O país também está a enfrentar graves surtos de cólera e outras doenças à medida que mais refugiados chegam”, disse ainda Rod Beadle.

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